Há-de passar
Está um temporal de meter medo. Na verdade dá-me nervos, que estou farta de chuva, de frio, de vento, de andar abafada, de kispo e botas, de pijamas quentes e meias polares nos pés. Estou saturada. Do tempo cinzento, sombrio, deprime-me, só quero hibernar, dormir e acordar quando estiverem 30º.
Depois é esta sensação de esgotamento, de me faltar energia, cada movimento, tarefa, custa, dói, exige mais do que o necessário.
Da falta de ferro e de sol, ando pálida, esquálida, ainda por cima dou comigo a escolher preto para vestir, dia sim, dia sim.
Sem paciência, sem vontade de rir, de sorrir, de fazer o esforço.
Sinto-me quebrar, sem força, mas ainda assim, teimosa, a segurar-me de pé, olhar perdido no vago, semblante carregado, como quem enfrenta olhos nos olhos a tempestade, e mede forças de igual para igual.
Resigno-me, enfim. Quebro. Estou sem paciência para me esforçar. Para sequer querer isso. Há-de passar. A chuva, o temporal, tudo o resto... há-de passar.