Sou pouco dada a febres literárias ou cinematográficas. Quando meio mundo fala de um livro ou filme, eu deixo-me estar sossegada. Foi assim com Dan Brown, quando toda a gente falava do Código Da Vinci. Tenho-o lá, oferecido, mas ainda não o li, até porque vi o filme e gostei muito. E diz quem leu o livro que o filme está bem adaptado. O mesmo não aconteceu com Anjos e Demónios, que li o livro em menos de nada, num fôlego entusiasta, e depois o filme foi um balde de água fria.
Adiante. Toda a gente fala no livro sensação, A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkins, e eu, ao contrário do meu normal, fiquei com a dita pulga atrás da orelha. Li A Verdade sobre o Caso Harry Quebert , e o livro prendeu tanto, surpreendeu tanto, que pensei que qualquer outro que viesse a ler ia saber a pouco. Na onda do suspense e thriller, aproveitei um cheque prenda, que me ofereceram no aniversário, e lá comprei o livro sensação.
![a rapariga no comboio a rapariga no comboio]()
Não desilude. Comecei a lê-lo devagar, não estava a prender muito, o tempo era pouco, o cansaço muito. Quando fui de férias levei-o, pouco crente que conseguisse ler, tão pouco acabar os 3/4 que ainda me faltavam ler. Pois que no dia em que fomos até à piscina e nos refastelámos na frescura de uma sombra, li tudo, de um fôlego, só parando na última página. A estrutura narrativa é o que de melhor destaco no livro. Narradores diferentes, personagens, que vão evoluindo e contando os factos, sempre do seu ponto de vista, tão subjetivo como é a sua posição no enredo. Assim o leitor vai construindo o enredo principal, como se fosse um puzzle, ao passo que vai conhecendo melhor as histórias das personagens intervenientes. O desfecho é um imprevisível previsível para os atentos, para os que percebem, o que não será difícil, as pistas deixadas nos relatos, os sinais, as evidências. É neste desfecho pouco surpreendente que residem as críticas mais negativas. Mas não retira, a meu ver, o interesse do livro. O enredo assenta na premissa: nem tudo o que parece, é. E temos a particularidade de uma narrativa a três vozes, todas elas femininas. Personagens complexas, com alguma densidade dramática. Ninguém é totalmente bom nem mau. São pessoas comuns, moldadas nas suas experiências de vida e traumas. E mais não digo...