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Gosto tanto, mas tanto, mas tanto, quando me identificam numa merda qualquer no facebook e vejo o mail ser inundado com as putas das notificações de comentários de gente que não conheço, nunca vi nem mais gordos, nem mais magros. Oh foda-se! Se eu quiser estar lá identificada vou lá e identifico-me, ponho gosto e comento, não?
Esta semana estive em várias reuniões. Oh santíssima paciência, que eu não aguentava que isso fosse o meu dia a dia profissional. Já quando eram as reuniões de grupo disciplinar, ou as pedagógicas, aquilo era discutir o sexo dos anjinhos, o típico falam, falam, falam mas não dizem nada, e agir que é bom, tá quieto. Mas hajam reuniões.
Estou com cara de zombie, humor de cão raivoso e uma vontade de sair a morder toda a gente como um vampiro.
Hoje era dia para ter ficado a dormir.
Lembro-me de ouvir isto da minha avó. Na sua austera sabedoria de mulher nascida e criada na aldeia, a primeira menina da aldeia a ir à escola primária, ainda que só tivesse a 4ª classe, lia sempre o seu jornalinho sentada na poltrona coçada, que estava no alpendre da entrada da cozinha, enquanto o meu avô dormia a sesta e ela se dava ao luxo de descansar as pernas da labuta matinal e do almoço. Juntava as letras devagarinho, mas lia, todos os dias, como um ritual, o seu jornalinho, com os gatos deitados aos pés. E também gostava de ler livros com histórias dos Pastorinhos de Fátima, da Irmã Lúcia e da Sãozinha.
A minha avó, apesar de mulher nascida e criada na aldeia, tirou carta de condução, mudou-se para arredores de Lisboa com os filhos pequenos, acompanhando o marido. Sempre foi dona de casa, ou não fosse do tempo do Estado Novo. Educou os filhos com pulso de ferro, garantia a ordem da casa e da família e foi senhora para ter máquina de lavar roupa, luxo naquele tempo, e passava horas na sua máquina de costura Singer.
Dona de uns olhos azuis cristalinos, baixinha e roliça (herdei-lhe as formas do corpo, mas os olhos, esses só ela os tinha), como boa portuguesa, que se quer pequenina como a sardinha, aturou, com a paciência e humildade que nascia com aquelas mulheres, as manias do meu avô (e não eram poucas). Queria ter tido uma filha mulher, a vida deu-lhe homens. Um coração genuíno, bondoso, dona de um sentido de justiça e igualdade enormes, calou-se muitas vezes para não alimentar a ira do meu avô, adepto do Estado Novo, salazarista convicto, membro da PIDE, pai tirano para os filhos, que para além do natural conflito de gerações, havia o conflito ideológico, social e político.
Não me lembro de a ver sorrir. A vida dura tirou-lhe o sorriso mas não a força de caráter. De postura altiva, longe de ser arrogante, era bem humilde e generosa. Lembro-me das coisas que ela me dava às escondidas do meu avô: o pão que cozera de manhã, laranjas que apanhara do quintal. Toma, leva, vai-te embora. E eu saía de casa antes que ele acordasse da sesta. Mas o pão acabado de cozer ou as laranjas colhidas do quintal tinham ido parar a casa do meu tio pelas próprias mãos do meu avô. Era este tipo de injustiças que ela tentava contrariar. Ainda que pela calada, às escondidas. Melhor que ninguém conhecia o tirano carrasco e as suas fúrias. Não me lembro de a ver sorrir, mas lembro-de da sua bondade, das lágrimas que lhe vi cair num cansaço da vida que levava e das injustiças que tinha de calar.
Quem dá o pão, também dá educação. Era um dos muitos provérbios de sabedoria popular que ela dizia.
E hoje na hora de almoço ralhei e dei umas palmadas ao Suki por asneiras que ele fez. E ele ficou tão tristonho e amuado, que se deitou na caminha dele com uma expressão enorme de tristeza. E eu fiquei de coração apertado, como se tivesse sido demasiado severa e injusta com ele.
Quem dá o pão, dá a educação.
E também dá carinho, e foi isso que passado pouco tempo lhe fui dar: colinho e miminhos.
Costumo trazer a minha lancheira, vermelha às bolinhas brancas, que já me valeu a alcunha de joaninha, com os lanches para meio da manhã e meio da tarde, para o trabalho. Guardo no refeitório, onde tem frigorífico, e lá lancho. Ontem apeteceu-me, senti necessidade de café a meio da manhã. Fui ao bar e não resisti a uma fatia (generosa) de bolo de iogurte feito há pouco. Hoje vou ao bar pagar o que fiquei a dever ontem, e estava lá um delicioso bolo de chocolate feito de manhã.
Adivinhem o que lanchei:
1. Fatia (ainda mais) generosa de bolo de chocolate
2. Puré de maçã cozida com granola
3. Iogurte + peça de fruta
4. Jejum por penitência da tentação da gula (ninguém acredita nesta, mas eu tento).
Passo os olhos pelo facebook e deparo-me com esta imagem. Mesmo a calhar no dia de preguicite aguda em que o karma ajudou ao meu estado de ursa polar em hibernação.
Estava eu a pensar que hoje era dia de aula de ginástica e eu com uma vontade de ir como de cortar os pulsos... e recebo uma sms: hoje não há aula porque a professora está doente.
Amén!
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