Depois de me ver arrebatada pela Sombra do Vento, intrigada e inquieta com o Jogo do Anjo, a verdade é que não esperei muito para ler O Prisioneiro do Céu, crente que me traria as respostas às dúvidas deixadas pelo anterior. E assim, num dia de férias que me saiu de chuva, instalei-me no sofá, rodeada de gatos, e, apesar de não ser fã de ebooks, lá li em formato PDF no tablet. É o mais pequeno dos três livros, não só em número de páginas, como também em extensão ou complexidade narrativa.
O Prisioneiro do Céu é, atrevo-me a dizer, um conto, uma pequena extensão aos dois livros anteriores. Em termos cronológicos a ação é posterior aos seus antecessores, mas através do relato de Fermín, que conta a Daniel parte do seu passado, é nesse relato do passado que obtemos respostas para as dúvidas deixadas no Jogo do Anjo, e percebemos a rede, pouco aleatória, que interliga as personagens desta saga.
É um livro pouco independente. Quem o ler sem ter lido os outros, lê e percebe, mas deve ficar pouco impressionado. Essencialmente é uma narrativa de memórias, onde uma das personagens, o nosso conhecido Fermín Romero de Torres, desvenda parte do seu passado, quando prisioneiro de guerra, as pessoas com quem se cruzou, como sobreviveu. Na partilha da sua história, surgem outras personagens, já conhecidas de quem leu os anteriores, e assim são desvendados alguns pormenores que dão resposta ao que ficou em aberto, ou pouco explorado, nas narrativas anteriores. Quer a narrativa de A Sombra do Vento quer a do Jogo do Anjo convergem no Prisioneiro do Céu. Fermín é agora o centro das atenções, e traz com ele revelações que explicam o passado e podem alterar o futuro.
Mantendo a mesma linha a que nos habituou, continuamos, enquanto leitores, perante um romance com mistérios à mistura, um fundo histórico social a servir de contexto ao enredo, a presença de Fermín acrescenta o cómico de situação, ainda que seja uma personagem carregada de complexidade trágica. Uma personagem misteriosa, um livro, o Cemitério dos Livros Esquecidos... o poder dos livros e da literatura como mote e elo de ligação para toda esta trama de amores, intrigas, crimes e mistérios.
Tenho esperança que haja um quarto livro desta saga de O Cemitério dos Livros Esquecidos. Alimento essa esperança com as últimas palavras d O Prisioneiro do Céu:
(...)sabendo que a história, a sua história, não terminou.
Acaba de começar.
Fiquei completamente rendida à escrita de Zafón, a esta saga fabulosa, estou expetante na possibilidade de um novo livro, mas por agora preciso fazer uma pausa de Zafón.
Foi espetacular ler esta trilogia de empreitada, assim, tudo seguido, sem perder fôlego. Absorveu-me como há muito não me sentia assim por um livro.