Opinando
Todos os dias há um incêndio nas redes sociais. Cada vez mais me abstenho de comentar, não que não tenha opinião, mas também tenho mais que fazer do que participar num linchamento em praça pública, com verdades absolutas e irrefutáveis (isso existe). Mas vamos lá fazer um resumo das últimas polémicas, sobre as quais a minha opinião nada conta.
1. Uma jovem de 16 anos foi violada por 33 homens. Contexto: parece que a jovem saiu de casa para ir passar a noite com o namorado, que mora numa favela, e consta que o mesmo pertence a um cartel de droga. A violação já por si só é um ato repugnante, sórdido, indescritível de tão horroroso que é. Uma violação coletiva multiplica em muito tudo aquilo que uma violação significa. Não são homens, são bestas. Pior que animais, que na vida selvagem não se vê esta selvajaria. Depois há quem coloque a culpa na jovem, porque até tem histórico de toxicodependência, porque até teve um filho aos 13 anos, portanto de criança inocente não tem nada. Nada, absolutamente nada justifica um ato sórdido e nojento que é a violação, muito menos por 33 bestas. Ainda assim, eu só pergunto uma coisa: a jovem pertence a uma família de classe média, mãe professora. Não é nenhuma sem abrigo, órfã, desprotegida. Então onde raio estava a família quando permitiu que a menina fosse dormir a casa de um namorado, traficante, que mora numa favela (que não é propriamente o lugar mais seguro do mundo)? Onde estavam os pais? É apenas a pergunta que levanto.
2. Um gorila de 17 anos foi abatido quando uma criança de quatro anos caiu na jaula dele. Ora bem, tranquilizantes parece que não era solução porque demorava a atuar, mandar tiros, sujeitos a acertar na criança, sem dúvida que era mais seguro. E a criança estava em risco de vida eminente? É que segundo testemunhas, até parece que o gorila estava mais numa posição de proteger a criança do que matá-la. Ainda assim, e não querendo entrar em opiniões radicais sobre o valor da vida animal ou humana, que só por acaso, também é animal, pelo menos sempre me ensinaram que o que distingue a raça humana dos restantes animais é a racionalidade, facto que acho discutível, já que humanos com racionalidade parece-me coisa rara (ver ponto anterior, o exemplo de 33 bestas, que essas sim, deviam ser abatidas, mas andam por aí, provavelmente à procura da próxima vítima), deixo a pergunta: onde estavam os pais da criança de quatro anos quando esta caiu na jaula de um animal? A tirar fotos para o instagram? Mata-se o gorila, eventualmente debate-se a segurança do dito zoológico, mas e a responsabilidade de zelar pela criança e pela sua segurança? Onde estavam os pais?
3. Colégios privados e manifestações. Bem, este tópico dá-me vontade de rir. Ou não. É tão absurdo que nem percebo como continua na ordem do dia. A polémica instala-se porque o governo decide cortar apoios na sequência dos contratos de associação a 49 colégios privados. Os contratos de associação surgiram no contexto de numa determinada área geográfica sem oferta pública de ensino, o governo subsidiava o estabelecimento privado dessa zona para que as crianças e jovens pudessem lá estudar sem pagar a mensalidade de colégio privado. Faz sentido. Repito, na falta de oferta pública de escola na zona geográfica, isto faz sentido. Na cidade onde eu moro, e da qual constam dois desses colégios que perderam os subsídios, conheço a realidade envolvente e nunca percebi bem porque raio os ditos colégios estavam ao abrigo desse contrato de associação, uma vez que a poucos kms de distância, poucos, existem várias ofertas públicas de escola. O ensino privado, e não querendo entrar na questão se é de qualidade máxima, é, como a própria designação diz: PRIVADO. O que é privado paga-se. Se eu vou a uma clínica privada, pago a consulta, os exames, o que tiver de fazer. Se for a um hospital público pago taxas, e se estiver isenta, não pago nada. Porque há-de o ensino privado ser subsidiado pelo Estado com dinheiros públicos? Indecente é sê-lo, exigirem que o seja, quando no ensino público houve tantos cortes por causa da crise. Os paizinhos que se insurgem porque querem os seus petizes no ensino de excelência, é simples: paguem. O bolso dos contribuintes não tem de financiar este pedantismo bacoco.
4. José Cid parece que fez comentários pouco simpáticos sobre os transmontanos. Não sei, não vi, só ainda passei os olhos pelas múltiplas partilhas e opiniões difundidas no facebook. Mas agora a sério, já olharam bem para o José Cid? E estão a levar as tretas que ele diz a peito? Não têm mais nada que fazer? Ele conseguiu o que queria: publicidade. É o "falem bem ou falem mal, o que importa é que falem". Indiferença e desprezo é, nestes casos, sempre o melhor remédio.