Quando nada se tem a dizer, o silêncio é o mais sensato.
Eu até tenho que dizer. Tanto para pôr para fora, num disparar de palavras que tentam definir sentires. Só que as palavras não saem, de tão parcas que são para estes sentires. E o tempo urge em milhentas outras coisas: é o trabalho que o chefe me passou e que me absorve as horas, deixando tudo o resto a acumular; é a dor de cabeça que por aqui se instalou já há três dias, e nem o Benuron ao pequeno almoço fez efeito; é o coração apertado porque avó do Gandhe está hospitalizada com prognóstico grave e reservado, e ele anda murcho, a murmurar que a avó não se safa; e também somos nós, no que poderá ser mais uma crise, porque as relações também são isso, crises e choques de (in)diferenças; sou eu a querer estar isolada numa ilha deserta, numa gruta no Tibete, no cu do mundo, quieta, em silêncio, a sossegar a alma, as tristezas e aflições, a lamber as feridas e chorar as angústias.
Quando não se tem nada a dizer, o silêncio é o mais sensato.
E num mundo onde se partilham as alegrias e boas experiências, as festas e os convívios, os passeios e as viagens, os sorrisos e os abraços (mesmo que sejam só para as fotos), nesse mundo perfeito e feliz não cabem as tristezas e os dramas das vidas comuns e banais.
Remeto-me ao meu silêncio. É o mais sensato.