Sem filtros!
Por cá continua-se em modo férias. Já com aquele sentimento de entrar numa triste contagem decrescente. Adiante. O relógio não pára. Carpe diem!
A férias estão a saber bem, obrigada.
Não havia nada muito planeado, e decidimos, quase em cima da hora, ir uns dias até ao Alentejo rever amigos e passar o aniversário de uma amiga que me é muito querida. Foi uma visita de médico, quase, deu para matar um pouco as saudades, para aquele abraço, para pôr a conversa em dia, para (re)visitar alguns locais onde não me canso de voltar. E é sempre com a certeza que é para lá que vou passar a minha reforma que regresso a casa.
Depois queria fazer praia. O ano passado tive duas míseras tardes de praia, brindada a vento e a comer com areia. Portanto este ano queria tirar a barriga de misérias. Só que, hello, estou no norte. Calor apanhei no Alentejo (nem imaginam como me incharam os pés e os tornozelos, a Fiona do Shrek ao pé de mim tem pés de bailarina). Dois dias de praia com calor, a seguir ficou encoberto, e depois frio, e a seguir chuva. Ainda bem que me deixei estar quieta e não andei a comprar biquínis no resquício dos saldos.
Portanto a praia resume-se a duas tardes de muito bom tempo, uma tarde de tempo encoberto, fechado, mas abafado. Meia tarde de tempo encoberto e frio, que nos fez saltar do areal para um bar de praia muito simpático a comer tostas mistas e brushetas. Na sexta esteve tempo incerto, o sol lá deu o ar de sua graça, tímido, mas começou a levantar-se aquele ventinho frio e foi o suficiente para arrumar a toalha e vir embora. Entretanto esta semana começou com chuva e vamos lá a ver como continua.
Marca de biquíni? Bronze? Ah ah ah!! É certo que também uso protetor solar 50. Andar de pele castanha é muito anos 90 e mais, é pouco saudável e provoca o envelhecimento precoce da pele. De maneiras que não estou branca papel porque também não o sou. Mas estou longe de ter aquele ar de quem passou uma quinzena em modo frango de churrasco no areal.
Tenho descansado e desliguei a cabeça do stress do trabalho. Confesso, este domingo estava esparramada no sofá e deu-me assim um aperto no peito a pensar que precisamente daí a uma semana estarei na iminência de regressar ao trabalho. Ó o entusiasmo (not).
Não obstante toda esta vontade de tirar a barriga de misérias de praia, a verdade é que dei comigo a ter um fanico quando encarei os biquínis. Servem-me. Mas foda-se, engordei, estou com um peso que nunca tive, com um filho da mãe de um pneu na barriga que me incomoda deveras. E se andasse com a auto-estima de boa saúde, estava-me a cagar para isso. Mas não ando. Nunca fui a gaja boa, a giraça do grupo de amigas, a última bolacha do pacote. Aprendi (e vivam os 30's) a aceitar a anca larga, a celulite, e toda uma panóplia de defeitos que o mulherio arranja. Mas nestes últimos meses não sei o que se passou. Pouco valem os cuidados alimentares (e são muitos, garanto-vos), o exercício físico (não sendo nenhuma miss fit ou maníaca do ginásio, também não sou a lontra de sofá). Ganhei peso e o filho de uma grandessíssima meretriz de um pneu que me anda a dar cabo dos nervos. Olho-me ao espelho e não gosto do que vejo. Tem sido um problema para me vestir, até porque muita roupa está apertada, procuro tudo o que é largo e o efeito é parecer um pequeno cachalote. Com a auto-estima na merda, como tenho andado, esta é uma daquelas "futilidades" que dão conta da cabeça de uma gaja, e já me valeu um pequeno ataque de ansiedade recentemente, quando tive de me vestir para ir a um sunset latino (convém dizer que abanquei num canto da esplanada e nem uma única música fui dançar, eu que adoro dançar).
Então, estava eu com este dilema existencial do quero ir à praia, mas estou gorda... quando recebo uma notícia de uma amiga muito querida. Foi diagnosticado à irmã (que é apenas um ano mais velha que eu) falência de medula. Basicamente ela precisa de um transplante de medula para sobreviver. Arrepiei-me, senti o coração apertado, o peito sufocado e gritei a mim mesma: "que se fodam os kgs a mais, o pneu, tenho saúde caralho, e há quem não a tenha e esteja à espera de um milagre para sobreviver e poder ver os filhos crescer". E é assim que a vida mostra o que é verdadeiramente importante e o que é completamente dispensável.
Esperei que a minha amiga fizesse o seu apelo nas redes sociais para o partilhar. Fi-lo hoje. E eis que, sem surpresa, vejo que horas depois nem um único like ou uma partilha. Tão pouco fizeram comentários. Se eu tivesse publicado uma foto com os presuntos na areia e uma bola de berlim meia mastigada, aposto que já teria não sei quantos likes e comentários.
Pó caralhinho a humanidade (???) das pessoas! E se fosse um apelo meu? E se fosse eu que suplicasse por ajuda? Tantos "amigos" nas redes sociais... ya, right.
E estão a ser assim as minhas férias. Descrição sem filtros.
Querem relatos bonitos, cor de rosa flamingo e cheios de unicórnios, ide ao Instagram. Lá não faltam verdadeiros contos de fadas, povoados por unicórnios e flamingos (e outras bóias estranhas, que depois devem contribuir para o aumento de plástico nos oceanos). Eu até fico a pensar que há gente que na verdade ainda anda a estudar e não a trabalhar. É que estão de férias há mais de dois meses, a julgar pelas fotos das viagens e a peregrinação às praias e piscinas deste Portugal.
A mim resta-me esperar que os próximos dias estejam melhorzinhos para levar os presuntos à praia e desfilar o pneu. Se bem que deitada, tenho um ventre liso, tão liso que até pareço uma miss fit, daquelas que às 6h da manhã estão no ginásio até às 9h, e às 18h, quando saem do trabalho, voltam para lá. Ah e comem atum com arroz e frango com alface.