Há momentos em que a solidão sabe bem. É um estar connosco próprios. Sentarmo-nos, tomarmos um café, pararmos e olharmos o horizonte, num monólogo mudo com os nossos pensamentos. Ou sem monólogo. Só uma silenciosa e ténue mudez.
Foi assim ontem. Ia passar a tarde de domingo sozinha. Podia ter ficado em casa, mas o dia estava magnífico para ficar fechada a olhar para a televisão.
Enfiei o livro na mala, um casaco de malha, e rumei nas calmas até às praias. Uma delas tinha já congestionamento no trânsito. Escolhi a esquerda e fui circulando devagar, até o trânsito diminuir e perceber que era mais uns kms à frente e a praia estaria bem mais sossegada. Não me enganei.
Calcorreei o passadiço, fotografei dunas, mar, ondas, nuvens, horizontes. Sentei-me e vesti o casaco, a brisa era fresca, desgrenhava-me o cabelo e arrepiava-me a pele. Fiquei assim, sentada, a olhar o mar. Esvaziei-me de pensamentos. Esvaziei-me de tudo o que pude. E fiquei leve.
Retomei a caminhada, já no sentido da civilização. Passei por uma esplanada, estava cheia. Voltei atrás e avistei uma que, aparentemente, estava fechada, mas como vi mesas e guarda-sóis expostos, arrisquei. Contornei e sim, estava aberta e, cereja no topo do bolo, deserta. Sentei-me. Um café, uma Frize limão. O livro. O sol. O silêncio. A quietude no meio das dunas, com o som das ondas ao fundo.
O tempo parou. Ou passou sem que desse conta.
Sei que acabei por vir embora quando várias pessoas perceberam que aquela esplanada meia escondida, virada para as dunas, estava aberta. Começou a encher. Muitas vozes. Conversas cruzadas. E eu queria silêncio. E solidão.
Regressei a casa. Cabelo desgrenhado, cheiro a mar salgado, o eco das ondas. A alma mais leve. E fiquei, assim, quieta, a aproveitar a pausa que dei a mim mesma... até que a vida chamou. Era hora de fazer o jantar. E a casa, até então quieta, ia voltar à sua vida normal.