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Estórias na Caixa de Pandora

Estórias na Caixa de Pandora

31
Jul19

Deve ser um método da Marie Kondo que desconheço

Sabem as influencers que nos ensinam, dada a sua vasta experiência em viagens, a levar o indispensável numa mala? Sabem?

Então como é que depois há fotos com 47 biquínis diferentes, 28 fatos de banho, 76 outfits todos diferentes, e quase outros tantos pares de chanatos, e tudo isto para uma "escapadinha de 3 ou 4 dias"?

4_3.jpg

Dúvidas de quem ainda quer acreditar com muita força que dentro de dias vai de férias e tem uma mala de viagem para fazer para 10 dias. 

26
Jul19

Só falta a coragem de enfrentar as agulhas

Não é de agora que tenho ideias de fazer tatuagens. Gosto das pequeninas, das que são apenas um desenho delineado, pretendo em sítios discretos, onde só se vêem ocasionalmente. E obviamente que tenham um profundo significado, já que são para a vida.

Então, e reza a lenda que têm de ser em número ímpar, cá deixo as minhas escolhas para o meu top three. 

fenix.jpg

Adoro esta Fénix estilizada. E exatamente neste sítio. 

bigodes de gato.jpg

Para o pé tive várias ideias, mas quando vi esta foi assim a coisa mais fofa que achei para tatuar no pé. Serei uma eterna cat lover. Não tem como me cansar dela. 

gato.jpg

Para o pulso também não faltaram ideias. Foi muito mais difícil escolher para este sítio. Mas gostei muito desta: a silhueta de um gato com o símbolo do infinito. É o chamado "é a minha cara".

 

 

25
Jul19

Nuvens dissipam-se devagarinho

Há uma coisa que vou repetindo a mim mesma nos momentos de crise, aqueles em que o mundo parece que desaba sobre os nossos ombros e nos esmaga: por vezes o melhor sítio para se estar é no fundo do poço, porque dali só para cima.

E é isto. É tão isto que há em mim. Vou suportando até não aguentar mais. Entro em queda livre e bato no fundo do poço. Às vezes é um fundo falso, porque cai mais um bocadinho, e mais um bocadinho e quando acho que já lá cheguei, ainda não.

Já por aqui escrevi e desabafei, lê quem tem paciência, quem quer, que o primeiro semestre deste ano foi negro, numa espiral descendente. Um acumular de tanta coisa, outras tantas à minha volta que me afetavam e me absorviam toda e qualquer energia.

E chegou aquele dia do BASTA! Do atirar-me da ponte e vai dar onde tiver de ir dar.

Há umas semanas acabei com o Gandhe. Foi um término de horas, diga-se... mas não deixou de ser aquele murro na mesa, ou no estômago, ou no cérebro. Aquele balde de água bem fria para ver se acorda. Foi um tudo ou nada. Sendo que eu acreditava que era o nada.

As horas que se seguiram depois que dei por terminada a relação foram incomensuravelmente dolorosas. Uma angústia enorme, um vazio... curiosamente não era o medo do que ia fazer sozinha à minha vidinha (não tenho família que possa ser apoio ou porto de abrigo, e nestas alturas... os amigos estão muito ocupados com as suas vidas, e tudo bem, não condeno) que me atormentava e doía. Era este amor que está cá dentro e a sensação de derradeira derrota de não termos sido capazes de resolver o que estava mau, e fomos deixando piorar e piorar e piorar. Uma relação não vive só de amor. Há tantas gotinhas de água que vão regando a relação e mantendo-a viva.

Genericamente o nosso problema foi o desgaste de anos juntos. Chegar àquele ponto em que a vida é apenas e só uma rotina de horários e picar uma lista de tarefas. Muitas chatices, discussões houve à volta deste tema, e a cada uma haviam promessas de mudanças. Não se concretizaram. Havia um comodismo. Um deixa andar. Eu, por mim falo, usava a técnica da avestruz: enfiava a cabeça na areia, ia vendo o que ia acontecendo, até haver nova explosão. Foi-se tornando demasiado frequente. Desgastante a vários níveis. 

Acabei.

E horas depois está ele a dizer-me que não quer desistir. Que podemos, juntos, trabalhar para que a nossa relação melhore no que tem de melhorar, o que a bem dizer, não é nada que já não tivesse existido, mas foi-se perdendo nas rotinas e no comodismo.

Work in progress. Bati no fundo e ele deu-me a corda para eu voltar à tona. Estamos a trabalhar em conjunto. Juntos. Porque não é só um ou só o outro que tem de mudar ou melhorar. Somos os dois, cada um nas suas coisas.

E foi assim que esta semana atingimos os 15 anos de relação. Muito tempo, não é? Pois. Não é fácil. Não é tudo cor de rosa com unicórnios a voar deixando um rasto brilhante. Não é o "felizes para sempre" das princesas da Disney (já repararam que a história termina sempre no dia do casamento, ninguém conta o depois?).

Entretanto também eu precisei de fazer o meu detox. Afastei-me uns tempos. Apesar de saber que tenho amigas a passar por problemas, eu precisei afastar-me. Recuperar a minha boa energia, a minha calma, o meu equilíbrio. 

É uma equação muito simples: se eu não estiver bem comigo e para mim, não vou estar bem com mais ninguém nem para ninguém (aqui incluo também o Gandhe, que verdade, também não lhe tenho facilitado a vida no último ano).

E sim, podia, como ainda recentemente indiquei, procurar um psicólogo. Sim, podia, ainda não está fora de questão. Mas por ora quero ser eu a reerguer-me. E estou em metamorfose.

Tenho-me dedicado àquelas pequenas coisas que gosto e que fazem toda a diferença no meu bem estar. A dança tem sido o meu antidepressivo e ansiolítico. Ando com os pés feitos num oito, doridos, cansados, mas a alma anda leve. O sorriso voltou. A energia também, ainda que o corpo esteja a precisar de férias para repousar. Eu, pelo menos, fico totalmente esgotada mais por questões a nível emocional, do que por cansaço físico.

Concentrei-me no trabalho, nas minhas funções, estabeleci os meus limites para não me deixar arrastar pelo stress. Foco. 

E estou a regressar aos poucos à superfície. 

Se estou totalmente a 100%? Ainda não. Mas estou mais confiante. Mais crente. Mais forte. Mais equilibrada. 

E para marcar esta fase estou seriamente a pensar em fazer uma tatuagem (ai o pânico das agulhas) de uma fénix. Porque é assim que me sinto: consumi-me em fogo ardente e renasço das cinzas. Está escolhido o desenho, o sítio, já tenho tatuador de referência... só falta mesmo o empurrãozinho de coragem para ir fazer. Mas agora também não é a altura ideal, sol e mar e praia (ainda não pus lá os pés, mas está quaseeeeee)... portanto deixemos para o outono/inverno.

As nuvens vão-se dissipando, o turbilhão à minha volta acalmou, ou pelo menos eu afastei-me do seu centro para poder serenar, e os dias vão correndo a uma velocidade de cruzeiro. Com calma. 

E o que desejo é ter sabedoria e serenidade para continuar com esta metamorfose. Não perder a coragem de ir trepando pela corda para vir à superfície do poço e sentir-me novamente em sintonia comigo mesma. E com o mundo/pessoas que me rodeiam.

Ora, há quem faça detoxs para caber nos vestidos de verão ou nos biquínis. Eu precisei de um detox à alma. Assim como assim, este ano tenho fatos de banho, sa lixe o six pack que não tenho (e pensar em todas as séries macabras de abdominais a que fui sujeita...).

E por ora estou assim, em ritmo de dança, solta, leve, deixa correr, deixa acontecer, dar as voltas que tiver de dar mantendo o equilíbrio e a leveza. 

Peço desculpa pelos recortes, só que por questõs de manter a privacidade e anonimato das outras pessoas, e o meu rosto não é totalmente visível/reconhecível, partilho estas ilustrativas e recentes fotos. 

Não prometo voltar à escrita com frequência. Vai depender dos dias, do que me apetecer. Perdoem-me, mas estou ao sabor da maré e a aproveitar isso. Não me sinto à deriva. Só que também não estou com um mapa traçado num trajeto sem desvios.

 

17
Jul19

Ando nisto há mais de um ano, e agora virou tema que anda de boca em boca

Cristina Ferreira, goste-se ou não se goste, é uma mulher multifacetada, inteligente, empreendedora e indiscutivelmente uma figura pública que todos os dias está sob o escrutínio dos telespetadores e do público em geral (era das redes sociais).

Ora, Cristina vem a público escrever este Tem Dias. E estes dias são os dias de muitas de nós, mulheres, que andamos numa correria no dia a dia, enfrentamos horários, tarefas múltiplas, preocupações várias, o stress é o pão com manteiga do dia e o descanso é um luxo a que poucas têm acesso. 

O stress tem implicações nos meus níveis de cortisol e o meu corpo reage imediatamente. O que é que isso quer dizer: um dia bem, o outro inchadíssima, um dia magra, um dia com mais três quilos, um dia não mostras os braços, no outro as pernas, agora usas um vestido largo para não se ver a barriga, come porque não vale de nada não comeres, vai ao ginásio mas o músculo não fica.

Para quem quiser recordar o meu testemunho em outubro do ano passado, aqui está ele.

O exercício continua. Os cuidados alimentares também. O médico dá-me na cabeça por causa do descanso. Dormir 8 horas. Impreterivelmente. Explica-me em detalhe os ciclos do sono. Explica-me os efeitos e impacto que o descanso e as horas de sono têm no nosso organismo, nas nossas células. 

Eu vou tentando. Mas tal como a Cristina Ferreira, cá estou eu, uma anónima comum mortal que passa pelo mesmo: um dia acordo magra, ao fim do dia parece que tenho uma barriga de grávida de 6 meses. Aliás, já perdi a conta às vezes que acharam que eu estava grávida. Ainda na semana passada aconteceu. Ganhasse dinheiro de cada vez que pensaram que a cegonha vinha a caminho e eu já tinha ido de férias para um paraíso tropical qualquer.
Eu vou brincando, gozando, usando o humor para dar a volta a isto, mas é fodido. Não, não estou grávida, também não estou gorda. Estou inchada. Faço imensa retenção de líquidos. Nos dias em que o meu sistema nervoso está mais alterado, os níveis de ansiedade ou stress mais altos, a falta de descanso se faz sentir e traduz-se numa enorme falta de energia, eu pareço um balãozinho. As calças apertam, recorro aos vestidos largos, olho no espelho e não gosto do que vejo, não reconheço o corpo que já tive e, atenção, nunca fui nenhuma modelo ou coisa que o valha. 

Mas fodido mesmo fodido é esta opinião pública de gordas e magras e o que é um corpo bonito. Safoda o bonito. Que seja um corpo saudável. E eu sou saudável. Fiz vários rastreios, análises, consultas de especialidades várias. Estou ótima. Todos os médicos que procurei disseram para continuar com a minha rotina alimentar e de exercício. Estou a fazer tudo bem. Porque não responde o corpo? Porque é esta coisa do stress, o trabalho que nos ultrapassa, o chefe que nos lixa a cabeça, o ambiente de trabalho que é de cortar à faca, a constante pressão de fazer mais e melhor a troco de um ordenado de merda, questões pessoais que me vão minando a estabilidade emocional, o equilíbrio, as pessoas que magoam e desiludem e eu deixo que me afete mais do que deveria.

O meu stress obviamente é diferente do da Cristina Ferreira, quanto mais não seja a sua génese. No entanto, os efeitos, consequências, resultados são em tudo semelhantes.

Contudo, ela está pior do que eu: todos os dias aparece na televisão nacional, nas redes sociais, é vista e comentada por milhares de pessoas. Eu, cá vou andando no meu anonimato e a gozar com quem acha que eu estou grávida.

 

17
Jul19

O Boneco de Neve (ironicamente lido no suposto verão)

 

Primeira quinzena de julho e despachei o thriller que tornou Jo Nesbo conhecido do grande público: O Boneco de Neve. 

Percebi logo que este livro não é o primeiro de uma saga (parece que é o sétimo). O protagonista, o detetive Harry Hole, tem toda uma história passada, que não sendo difícil de perceber ou acompanhar, o certo é que acredito que, para quem não leu os anteriores livros, há detalhes e pormenores que passam ao lado. Nada que seja determinante na compreensão do enredo, mas para quem gosta, como eu, de conhecer os ínfimos detalhes, confesso que fiquei ali um pouco curiosa e inquieta por saber mais.

Adiante. O Boneco de Neve é um thriller (nórdico) que prende o leitor. Impressiona pelas descrições gráficas e sem eufemismos. Um assassino verdadeiramente assustador e impiedoso, que mais parece um fantasma, dada a escassez de pistas que deixa à polícia, num jogo macabro de psicopata inteligente que finta tudo e todos. 

Confesso, e não estou a armar-me aos cucos, que desconfiei relativamente cedo de uma personagem como sendo o verdadeiro psicopata assassino. Não me enganei. E se houve um sentimento de orgulho de "yes, acertei", também houve aquela pequena desilusão de não ser verdadeiramente surpreendida. 

Há várias histórias paralelas, num emaranhado que se vai desenrolando a cada capítulo. Há descrições verdadeiramente impressionantes, excessivamente gráficas, difíceis de tirar da cabeça. Há momentos de suster a respiração. Há momentos de franzir o sobrolho e pensar que há ali qualquer coisa que não está bem. E sim, há algumas surpresas que apanham o leitor desprevenido. 

No geral, gostei. Talvez volte a ler Jo Nesbo. 

Agora, estúpida e burra que nem uma porta foi ter lido o livro e querer ver o filme. Na minha ingenuidade pensei: ah, esta história não é assim tão difícil de passar para filme sem haver mudanças e alterações. Puro engano. Logo no início, logo na primeira cena percebi que tinham alterado o enredo. Um grande foda-se aos guionistas que supostamente escrevem guiões de filmes baseados em livros. Dá vontade de lhes pregar com um chapadão na cara e perguntar se no mínimo leram a obra original. Fiquei logo tão piursa com o início do filme, que me deixei adormecer. Acordei nas últimas cenas, e, mais uma vez, pouco, muito pouco a ver com o que está escrito na obra original. 

Perguntei ao Gandhe se tinha gostado do filme (ele não leu o livro). Sim, gostou e contou-me algumas cenas, perguntando se era assim no livro (eu já lhe tinha falado do livro e feito assim um resumo alargado, sem desvendar a identidade do assassino). Ora, algumas dessas partes que ele contou do filme fizeram-me desfiar um rosário de palavrões feios porque essa merda nem no livro está. Ainda bem que não vi o filme todo. E nem quero. 

Já estou numa nova leitura, mais um policial, desta vez de uma escritora considerada "a rainha dinamarquesa do thriller". Já li um livro dela, e não sendo dos thrillers que mais gostei, decidi dar uma nova oportunidade a esta autora. Confesso que este livro está a agarrar-me mais que o outro.

Tenho até ao fim do mês para ler, porque o livro para levar comigo de férias está escolhido, é em formato livro de bolso precisamente para isso: férias sem pesar no saco de praia. 

 

08
Jul19

Aura negra

Há cerca de duas semanas disseram-me que eu andava com uma aura negra. Apercebi-me que raro era o dia em que não havia alguém a perguntar-me se eu estava bem, embora a resposta estivesse estampada no meu rosto. Uma colega apanhou-me a chorar na casa de banho do trabalho. Deu-me a mão e disse: se quiseres falar... e deixou-me sozinha, porque percebeu que era assim que eu queria estar.

Dou por mim a lembrar-me dos versos de uma canção: porque eu só quero ir aonde eu não vou, porque eu só estou bem onde eu não estou, como se estes versos fossem o eco do meu íntimo. Quero estar em qualquer outro lugar, e sei que chegando lá, quereria outro. 

Recentemente fiz um exercício de reflexão, o balanço da primeira metade do ano.

Talvez esse pequeno exercício me tenha ajudado a desbloquear qualquer coisa aqui dentro. Talvez porque pus para fora o que me sufocava cá dentro.

Se está tudo bem comigo? Está. Vai estando. Em análise são problemas comuns, ordinários desta vida de adulto, que está longe de ser "aquela cena muita fixe" que imaginávamos que seria nos nossos inocentes e ignorantes 15 anos, quando queríamos crescer rápido e ser independentes, e donos da nossa vida, e mudar o mundo, e ser livres, e conquistar todos os sonhos com a mesma leveza com que uma criança brinca com uma bola. Só que não. 

No entanto, à minha volta, com pessoas que amo e estimo muito, tem sido um rol de desgraças: mortes, doenças graves, problemas vários. E não me importo nada de ser a sua almofada, onde elas choram as mágoas, partilham os medos e as angústias. Desde muito cedo que as pessoas se sentem à vontade para falar comigo. E na maioria das vezes é só o que querem: falar, pôr para fora. E eu devia mesmo ter seguido aquele conselho, de há muitos anos, de ir para a área da psicologia. Provavelmente estaria onde estou hoje, a trabalhar numa área "nada a ver". 

Dizia que não me importo, até porque ao ouvir os outros, esqueço-me de mim. Ouvir os verdadeiros dramas dos outros faz-me pensar que eu não tenho problemas, faz-me relativizar aquilo a que ando a dar demasiada importância e me anda a esgotar.

Contudo, também eu sou humana e tenho os meus dias. Na semana passada, num dia mau, mesmo mau, eu estava mal, doía-me a cabeça, sentia tudo a explodir cá dentro, uma vontade de chorar de raiva e frustração, e uma amiga precisava ligar-me à noite. Precisava falar. Foi um dia particularmente difícil, e cheio. Reunião de condomínio até às 21h, jantei às 22h, e, ainda assim, avisei-a que se quisesse ligar, podia. E ouvi. Mas não conseguia dizer nada mais que uns hum hum, pois, e por momentos instalava-se um silêncio que eu queria preencher, mas não sabia como, a minha cabeça explodia. Felizmente ela retomava o relato. E no fim senti, creio, na sua voz que estava mais calma, com as ideias mais claras, ou mais organizadas. Alguém a ouviu, e ela a falar arrumou os seus pensamentos, partilhou os seus medos, expôs as suas inseguranças e fragilidades, como que ao fazê-lo elas se tornassem mais leves. Noutro dia eu teria falado mais. Opinado mais. Naquele dia não tive sequer força para isso (desculpa). No entanto, e apesar do estado lastimável em que eu estava, apesar de ser tarde e más horas e estar exausta, sabia que ela precisava de mim. Precisava que a ouvisse. E eu ouvi. E quando desligou, fui tomar banho e chorei as minhas angústias. Diluíram-se na água que corria e me lavava corpo e, eventualmente, alma.

Hoje, comentei com a pessoa que me disse que eu andava como uma aura negra que aquela expressão me tinha deixado a pensar. Reforçou que tem notado que ando demasiado triste ultimamente, eu que era tão bem disposta e cheia de energia, que fazia questão de criar bom ambiente e fazer as pessoas rirem e agora vê-me isolada e quieta no meu cantinho. Eu disse apenas, sem detalhes, que os últimos meses não têm sido fáceis. Que há situações que, não sendo diretamente comigo, são com pessoas que estimo muito e as tenho ouvido, acabando por absorver as suas preocupações e angústias. Que fico revoltada com histórias de vida que estão a acontecer e não é justo. Não é justo uma rapariga mais nova que eu, com três filhos, super bem disposta e boa onda, descobrir que tem cancro maligno na tiróide. Ou que a sobrinha de 16 anos de um "velho" amigo dos tempos de escola está a lutar contra um linfoma. Foda-se, ela devia estar a divertir-se, a sair com as amigas, a beber os primeiros copos à noite, a apaixonar-se e desapaixonar-se. Angustia-me saber que uma amiga está num sofrimento atroz por ver a irmã a lutar pela vida, uma luta inglória e devastadora, que está a deixar sequelas graves. A irmã tem a minha idade, dois filhos pequenos, um futuro pela frente. Um amigo que se apressou a editar e publicar o seu livro, porque uma doença grave veio, e lá está ele numa luta pela vida, porque ainda quer viver e tem muito que fazer. Só que as notícias não têm sido animadoras. Morreu a avó do Gandhe, no mesmo dia morreu o pai de uma grande amiga, recentemente o sogro de outra grande amiga, porque não bastava ter a irmã doente, também tinha o sogro em estado terminal de cancro. E eu sinto-me tão impotente, porque quero ajudar todas estas pessoas, que têm de se fazer fortes para todos os outros, como se não lhes fosse permitido fraquejarem, chorarem ou simplesmente desabafarem o que lhes vai na alma, e não consigo. Só as posso ouvir. E soubessem elas como muitas vezes ao telefone ou nos canais de conversação online estou a ouvi-las/lê-las com as lágrimas a caírem-me pela cara. 

A minha aura negra é este acumular de nuvens sombrias que pairam sobre mim. É eu sentir-me na pele daquelas pessoas e pensar: e se fosse eu? É aqui que vem a puta da solidão, aquela que existe por causa desta orfandade de família viva, que não quer saber de mim, que nunca quis, que mais valia que eu não tivesse nascido. Quem teria eu junto ao meu leito se estivesse meses num hospital a lutar pela vida?... Ninguém. 

E porém sei que há várias pessoas que me vêem, que vêem a minha aura negra, a tristeza nos meus olhos, que estão à espera que eu seja capaz de falar para me ouvirem... algumas talvez me visitassem, com um inútil ramo de flores, se fosse eu a estar semanas num hospital. E sou grata por essas pessoas. No entanto, há este buraco negro dentro de mim, este vazio que ninguém pode preencher. E eu quero ignorá-lo. Tem dias que consigo. Tem dias que não.

Vejo todos os sinais de alarme: depressão à vista! Há coisas dentro de mim que têm mesmo de ser resolvidas. Curadas. Fechadas. Seladas. Para me libertar. 

Já me informei de psicólogos na zona, já pedi referências, já vi preços. E também já vi que é uma especialidade não contemplada nos seguros de saúde que tenho. E sabendo que não é como ir ali ao dentista e em duas consultas ter o problema resolvido, ando aqui a pensar que há certas especialidades na saúde que não são para toda a gent€. E infelizmente a saúde mental ainda é muito relegada para um plano de "menor" importância.

Há pouco frisei, reiterei e deixei bem claro a uma amiga que eu estou aqui com e para ela. Para chorar comigo e a seguir rirmos de parvoíces. Para partilhar comigo a dor que guarda para não dar parte de fraca. E digo-o de coração e com sinceridade. Estou aqui. (quase que parecia a Maria Leal agora: Pandora aqui só para vocês - momento parvo do post). 

Quanto à minha aura negra, vai desvanecer-se. Eu sei que sim. Que eu tenha coragem para a enfrentar, sabedoria para a soprar para longe. Que fique apenas a lição que a vida me quis dar com esta fase. Ainda estou a tentar descobri-la, mas hei-de lá chegar. Já a missão de vida, creio que a estou a encontrar. Parece que sou boa a ouvir pessoas e a aliviar-lhe as dores da alma. Mesmo nos dias e que só consigo dizer hum hum, pois... pelo menos isso. A ter ter algum valor, que seja a ajudar quem precisa. 

 

08
Jul19

Leitura inspiradora

Ainda não tinha vindo aqui partilhar a minha leitura de junho. Decidi fazer uma pausa nos thrillers, e depois de ter lido mais histórias inspiradoras e encantadoras de um gato muito especial e mundialmente conhecido,Bob, olhei para a minha pilha de livros por ler e este, aquisição recente, saltou-me à vista. Porque não continuar com gatos e suas histórias inspiradoras? Afinal estou a precisar mais disso do que propriamente de histórias de serial killers, psicopatas e investigações criminiais que são (ou não) uma quebra-cabeças.

Então, voltei a uma histórica verídica, escrita na primeira pessoa, a mãe de um rapazinho autista, com enormes dificuldades de socialização e outros tantos problemas. É um relato sentido, genuíno, o sofrimento de uma mãe que tudo quer fazer para ajudar o filho, e a frustração em que tantas vezes se encontra por não encontrar soluções. Um dia lembra-se que talvez, um remoto cético talvez, um gato fosse um bom amigo para o seu filho e o fizesse sair da sua bolha.

E temos o relato de episódios vários, alguns hilariantes, outros comoventes, porque facilmente sentimos o que esta mãe sentiu, e comemoramos com ela as pequenas vitórias e conquistas do pequeno Fraser, a empatia e amizade instantânea que criou com Billy e os fortes laços que os ligaram. Por várias vezes Louise mostra-se cética e acha que é ela a imaginar coisas, que um gato não pode fazer/sentir/pressentir/ajudar como Billy parece fazer. Mas seria demasiada coincidência para não relacionar os avanços de Fraser à presença e apoio incondicional do seu amigo de quatro patas. 

Um diagnóstico precoce de autismo, um futuro vaticinado a "nunca será capaz de..." para um evoluir, aos poucos, pequenos passos, a um "afinal conseguiu..."

Uma história de vida (real), cheia de ternura, o amor de uma mãe, a união de uma família, a amizade incondicional entre uma criança e um gato, ambos especiais e únicos. Uma história de luta, coragem, persistência, muita fé e esperança, quando nada mais parecia haver.

Recomendo como leitura de verão. Um livro, apesar do tema, de leitura ligeira, fluída, e que vai mexer com várias emoções, que nos pode fazer vir a lágrima ao canto do olho, como a seguir uma gargalhada. 

 

01
Jul19

Pensamento do dia (e uma espécie de balanço do primeiro semestre)

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Dia 1 de julho. Metade do ano já se foi. Anseio pelo verão que poucos sinais ainda deu de si. A única coisa que já fui fazer à praia foi ir até à esplanada, um dia chovia, no outro estava um vento frio que não se podia. Quando daqui a exatamente um mês for de férias continuarei com esta cor de posta de pescada cozida, porque os fins de semana de julho já estão todos preenchidos na agenda, e pouco ou nada resta para uma fugida até à praia, só para estender a toalha e apanhar uma cor. Em boa verdade se diga, olho pela janela e mais parece que vai chover. Continuo a usar roupa meia estação e dias há que rapo frio. 

O primeiro semestre do ano resume-se a duas simples e curtas palavras: uma merda!

Têm sido golpes atrás de golpes. Doenças, mortes, acidentes, chatices, frustrações ao rubro, revoltas engolidas que agora se soltam num vómito descontrolado.

Sinto-me totalmente esgotada. Sem paciência para nada nem ninguém. Alguém, por favor, me leve para uma ilha deserta?! Se bem que no estado em que estou, nem a mim me aguento, portanto façam-me uma sono-terapia. Três meses a dormir. Mas vá, só depois do verão, se é que ele vai, finalmente, chegar. É que eu gosto do verão. Muito. E portanto acalento esta pequenina esperança de agora arrebitar um pouco o estado de espírito.

Sinto-me sozinha. Em parte mea culpa, que tenho esta mania que sou durona e aguento os golpes, que consigo suportar o mundo dos outros às costas, absorver no meu íntimo as suas dores e angústias e preocupações, ter sempre uma palavra, um ombro, uma mão estendida, a opinião que me pedem ou ideias que precisam. E depois as minhas dores, onde ficam? Entaladas na garganta, embrulhadas no estômago. E quando tenho um pouco a coragem de falar levo com respostas que, até pode ser o que preciso ouvir, mas foda-se, um abraço e um "vai correr tudo bem, vais ficar bem, estou aqui" também era bom. Não há quem me ouça, ou queira ouvir. Todos vivem os seus dias, os seus problemas. A sua vida. Eu entendo. Resigno-me.

Sinto-me perdida. Aquilo que acho que sei, que aprendi, que evolui, afinal parece que não, que estava enganada, que nada sei, nada aprendi, nada evolui. Deixo (outra vez) que me façam sentir uma porcaria sem qualquer valor. E sim, à la Gustavo Santos e os seus clichés, eu SEI que sou a primeira pessoa que tem de gostar de si, de se valorizar, de confiar em si e nas suas capacidades. Mas fica difícil com tanta coisa e tanta gente à volta a derrubar, a mandar ao chão, a virar as costas porque não tem tempo, não quer saber, tem mais em que pensar. Ou simplesmente nem se lembram que existo.

Sinto-me sem forças. Já só quero ficar quieta no meu canto, gritar ao mundo:

Não: não quero nada

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!

A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

(...)

Não me peguem no braço!

Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.

Já disse que sou sozinho!

Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

(...)

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! *

* Álvaro de Campos, LISBON REVISITED (1923)

Metade do ano foi-se e eu estou feita em cacos. 

Vamos ver como corre a outra metade. Como chegarei daqui a seis meses. Parecem uma eternidade de tempo, e no entanto passam assim, num estalar de dedos.

As coisas estão a acalmar, é certo. Só que pelo sim, pelo não, ainda não me sinto capaz de respirar fundo, serenar e olhar o horizonte com a coragem e a esperança de que vai ficar tudo bem. De que vou ficar bem.

 

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