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E de repente passou outro mês, daqui a nada é abril e não sei para onde o tempo se esvai.
Contraditória esta sensação, já que se vive um novo confinamento e a vida (alegadamente) abranda.
Sabem aquela palavrinha que está muito na moda, burnout? Pois... foi o que tive há algumas semanas atrás. Bati no fundo e a vida tirou-me o chão debaixo dos pés. Aquilo que eu tinha como seguro, os meus alicerces e fundações inabaláveis, abalaram e tremeram, quase ruíram. Quase.
Aprendi tanta coisa em pouco dias. Aprendi com dor e angústia. Dores de crescimento, chamam-lhe. Crise. A crise é o motor da mudança. Da evolução. Da transformação. Aprendi que eu tenho de ser a primeira a mudar. Se eu mudo, o outro muda. A vida muda. Passei demasiado tempo a querer que o outro mudasse. A exigir aquilo que eu própria não dava nem fazia. Que rica moral?! Conseguir olhar-me com clareza e perceber o quão tóxica tenho sido. Qual a opção? Vitimizar-me no papel da coitadinha ou fazer melhor, ser melhor? Procurar dentro de mim o meu melhor? Descobri que viver em amor é o caminho para ser feliz, e esse amor começa pelo amor próprio. Que não tinha. Não sentia. Não alimentava. Como esperar ser amada por outras pessoas se eu, eu própria, não me amo?
Esta coisa da terapia, do autoconhecimento, do amor próprio tem sido uma jornada do caraças! Tem mexido com muita coisa. Demasiadas coisas que atirei para debaixo do tapete e esperei que o tempo as levasse, a vida as esquecesse. Ingenuidade. Tenho tomado uma consciência (que não tinha) do que sou, do que faço, por quê. Descobri que sou forte, muito forte. Que houve os momentos em que a vida não me deu outra alternativa que não fosse o ser forte. E caramba, é bom! Eu sou capaz! Eu consigo! E o mais poderoso que pude sentir nos últimos tempos foi este grito do EU POSSO E MEREÇO!! Porque nunca acreditei que eu merecia. Permiti que me fizessem acreditar nisso. Eu não merecia.
Dói mexer nestas mágoas que guardo como se fossem o meu ADN. Tenho de as enfrentar. E libertar. Porque não me servem mais. São estas emoções negativas que preciso descartar, largar, soltar, deixar ir. E encontrar forma de perdoar quem me fez sofrer tanto. Porque é esse o passaporte para a libertação: o perdão.
Não sei ainda como o conseguirei. Há mágoas muito profundas. E que tenho andado a protelar enfrentar, mexer, dissecar. Olho pelo canto do olho para os exercícios de psicoterapia que tenho para fazer. Fecho os olhos e respiro fundo. Não quero. Não agora. Não hoje. E os dias passam. E nunca é o dia. Agora mesmo escrevo no blog em vez de estar sentada com o caderno à frente. Sou só eu e um caderno, que tem isso de assustador? Sou eu a ir dentro de mim, ao mais fundo de mim resgatar as histórias do passado, soltar as emoções, chorar o que tiver de chorar, e, por fim, soltar e deixar ir. E, foda-se, que dói.