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Estórias na Caixa de Pandora

Contém merdas que não te interessam...

Estórias na Caixa de Pandora

Contém merdas que não te interessam...

27
Abr23

52/365

“A melhor terra para semear e fazer crescer algo novo outra vez está no fundo. Nesse sentido, chegar ao fundo do poço, apesar de extremamente doloroso, também é um terreno para semear.” Clarissa Pinkola

 

No dia que bati no fundo do poço, no dia que senti o meu eu quebrar-se e estilhaçar-se, no dia em que senti uma dor tão gritante que julguei não suportar, nesse dia morri. E enfim, pude renascer e transformar-me. As dores trouxeram ensinamentos. O sofrimento trouxe crescimento. E de mim brotou uma força vital, enraízada na minha ancestralidade. Olhei para mim como nunca tinha olhado. Enfrentei as minhas sombras e medos, debati-me com as crenças que me limitavam e bloqueavam. E então pude amar-me. 

No dia que rastejei para fora do poço percebi a coragem que me corria nas veias. Nos primeiros passos vacilantes, de quem ainda está extremamente ferida, estendi a mão e pedi ajuda. Fui andando, consciente que o caminho é para a frente, sempre. Não para trás. A cada passo dado afastava-me do poço de onde renasci. Fui curando as feridas. E fui largando o que me pesava. Principalmente tudo aquilo que não era meu. Despi o manto da culpa que me cobria há tanto tempo que se tornara pele. A caminhada foi ficando mais ligeira, mais leve, mais fluída. Em direção à vida, ao futuro, ao que o destino tem para mim. Permiti-me semear sonhos para colher projetos e objetivos de vida. Ousei tomar decisões diferentes. Seguir novas direções. Confiar nos meus instintos e intuição. Respirar fundo e seguir, de olhos postos no horizonte. 

20
Abr23

51/365

Onde estava eu com a cabeça para me meter numa coreografia de salsa? Onde?? 

Agora para além da aula semanal, há os ensaios para o projeto coreográfico, são cerca de 3h em cima de saltos altos. Fico tão moída do corpo e com os pés a gemer de exaustão. 

E apesar desse cansaço, e daqueles minutos em que maldigo a minha decisão em me meter nestas alhadas, é uma sensação boa esta de sair da zona de conforto, de superar limites, bloqueios e crenças que me diminuem. Mais do que trabalhar dança, trabalho a minha autoconfiança, amor próprio, sensualidade. E porra, que tem sido bom. Tão bom! 

 

19
Abr23

50/365

Menos séries à noite no sofá, mais fins de tarde a relaxar no exterior, de preferência perto de água (viver em Aveiro é estar sempre perto de água).

Menos redes sociais, mais livros lidos ou episódios de podcasts ouvidos.

Projetos em curso e a vida a fluir. 

 

 

14
Abr23

49/365

Hoje deixo cair as lágrimas que durante este mês guardei no meu peito.

Ainda não te tinha chorado.

Só na semana passada consegui ir para o sofá, para um serão de séries e pipocas. Com os teus companheiros, os que ainda vivem. Mas o colo permanece vazio. Já não estás para o ocupar. 

De quatro, passaram a dois. Sinto a casa vazia. Sinto-te a falta, Patinhas. É inegável que a ligação contigo era maior, mais forte, mais intensa. Fazes-me falta. 

Escolhi um pequeno vídeo que tenho de ti, num dos teus regressos a casa depois de um internamento. Partilhei-o nas stories. Wish you were here como música de fundo, mais para abafar a minha voz a sussurrar-te mimalhices. E foi este o gatilho que libertou as lágrimas que não consegui chorar nestas semanas, desde que te deixei ir. Fazes-me falta. Posso habituar-me à tua ausência. E mesmo assim sinto-te a falta. 

04
Abr23

47/365

Há momentos em que me és insuportável! Nessa dor que ecoa dentro de mim. Em como me senti tão diminuída e destruída. Há momentos em que fica um grito de raiva preso na garganta. Um gutural e ensurdecedor grito de revolta e mágoa. Vou ao chão sem ar. E recuso-me a ficar nesta auto comiseração. Não és melhor que eu. Nem pior. És apenas tu, com as escolhas que fizeste e as consequências que essas escolhas te trouxeram. Não sou o teu carrasco. Nem tu o meu.

Dou um murro no chão e sinto o tremor pelo meu corpo. Fecho os olhos e inspiro demoradamente. Invoco a minha força interior. Sou mais que um farrapo humano tombado no chão. Sou muito mais que a destruição que me causaste. Ergo-me, como se mil mãos de amparassem. Não estou sozinha. Dentro de mim sinto a força do meu clã. Há um calor que me envolve, me acolhe, me fortalece ao erguer-me. Firme, permaneço de pé, ainda de olhos fechados, a inspirar vagarosamente. Sinto-me renascer. Para trás ficou a mulher carente e ferida que eu era. Abro os olhos e o mundo à minha volta está diferente. Não. Não é o mundo. Sou eu. 

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