Pensamento do dia
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O que fazer quando nos sentimos totalmente desconectados de nós?
E o que é isso de estar desconectado de si próprio?
Bem, de uma forma muito simplista e básica, é quando se vive para fora de nós, quando os nossos dias são uma interminável lista de tarefas e horários a cumprir, quando a prioridade é tudo o que nos é externo, obrigações, deveres, ou os outros. O trabalho, a casa, o marido, os filhos, os amigos ou família, todas as tarefas que tomamos como nossa responsabilidade. Quando não há tempo para cuidar do eu, pois a prioridade é viver para os outros.
E chega o cansaço. E o desanimo. E a frustração. Porque chega aquele dia em que sentimos que não somos vistas, ouvidas, amadas, cuidadas. E agora, bofetada na cara, como podemos exigir isso dos outros, quando somos as primeiras a não nos vermos, não nos ouvirmos, não nos amarmos, não nos cuidarmos?
Lá vem o cliché, e mesmo sendo cliché é tão facilmente esquecido: se eu não gostar de mim, quem gostará? E o gostar de mim implica valorizar-me, priorizar-me, ouvir-me, atender às minhas necessidades, olhar para mim com olhos de ver, cuidar de mim, e, com tudo isto, procurar a felicidade dentro em vez de fora.
Na minha última consulta de terapia (sim, voltei há uns meses à terapia com mais regularidade) tive, outra vez, essa tomada de consciência: eu não estava a olhar para mim, a ouvir-me, a priorizar-me, a valorizar-me. A luz que devia ter dentro de mim estava apagada por falta de cuidado e amor, e procurava desesperadamente essa luz fora, nos outros.
Pancada na cabeça. Voltar ao caminho para me reencontrar.
Fim de semana de outono com sol, fiz caminhadas na praia na companhia de podcasts sobre a temática do auto conhecimento, auto responsabilização, amor próprio. Caminhei sem os óculos de sol, para não me esconder, e poder apanhar em pleno sol no rosto. No fim da caminhada, sentei na esplanada, um café, uma água das pedras, um livro. Depois passei no mercado do peixe e comprei uma dourada fresca para o jantar. Ainda fui à banca dos legumes e comprei alface, tomate e pepino. Senti o sol na cara. Senti-me grata pelo privilégio de morar onde moro e poder fazer estas pequenas coisas com tanta facilidade e prazer. De volta a casa, sim, fiz algumas tarefas domésticas, não o senti como obrigação, e sim por gosto, porque me traz tranquilidade e paz ter a casa minimamente organizada e as demais tarefas orientadas (roupa a lavar ou a secar, refeições orientadas). Sentei-me no terraço a ler. Gato ao colo.
O marido chegou à noite do trabalho. No sábado jantamos fora, como um encontro de casal que há algum tempo não tínhamos. No domingo jantámos em casa, filme ao serão no sofá.
Volto um pouco a mim, ao que me alimenta a alma e me apazigua o espírito. Mais que a bonança depois da tempestade, procuro voltar a estar inteira, conectada comigo própria. Ver-me, ouvir-me, cuidar de mim. Não cumprir pelos outros, cumprir por mim.
Cumprir-me.
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