Hoje estou de luto... Amanhã luto!
O meu avô paterno faleceu. Aquele avô que um dia me disse que eu não devia ter nascido, porque estraguei a vida ao meu pai, o mesmo avô que em pleno dia de natal me proibiu de entrar em casa dele, e eu fiquei na rua, à chuva, sem entender o porquê de tantas coisas que me disse e fez e magoaram, e eu continuava a ir lá até esse dia, o dia que me senti um cão de rua, que toda a gente enxota com nojo.
O meu avô faleceu e eu lamento não ter tido oportunidade de esclarecer umas quantas coisas. De, quiçá, recuperar um pouco daquele avô da minha infância, que foi colo e porto de abrigo, que foi mão que ampara e sabedoria que ensina, que me levou a tantos sítios, que me mostrou tantas coisas. Aquele avô que partilhou comigo brincadeiras e gargalhadas, muitas histórias de vida e ensinamentos.
Os últimos anos foram agrestes. Ele tinha o seu mau feitio. Tinha as suas manias. E não estando a isentá-lo da sua responsabilidade quanto aos seus atos, acredito que uma boa cota parte das confusões e desentendimentos que houveram tiveram o dedo maquiavélico e manipulador da mulher que me pariu...
Não posso recuperar o tempo. Posso, agora, escolher se guardo mágoa e rancor, ou se guardo o amor incondicional que, durante a minha infância e adolescência, existiu entre nós. Eu escolhi guardar o amor. No seu derradeiro destino perdoei-lhe as mágoas. Na minha memória quero que prevaleça o avô extraordinário que tive a sorte de um dia ter tido. O avô que tanto me deu, tanto me ensinou, tanto me mostrou.
Até sempre avô. Gosto muito de ti. Sempre gostei. ❤