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Ontem, antes de ir para casa, fui até ao fundo da rua. Estacionei e subi as escadas do passadiço. Sentei-me num dos bancos e olhei o mar. O pôr do sol já tinha acontecido ainda eu estava no escritório, mas este é o clichê, certo? O mar e o pôr do sol, como se apenas aquele momento dourado fosse o privilégio dos privilégios? Não. Ontem a escuridão fundia-se mar adentro, mas ali, na rebentação das ondas na praia eu via, ouvia e sentia na pele. Ali fiquei o tempo de fumar um cigarro (pensativo, à Eça de Queirós). Na mente borbulhavam muitas ideias, esse lodo em que me tenho afundado. E naquele exato momento em que olho de frente para o meu medo, é quando percebo que quanto mais me liberto desse medo, quanto mais largo a necessidade de controlo para evitar uma dor maior, é quando o medo perde força e eu me sinto livre e segura.