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Estórias na Caixa de Pandora

Contém merdas que não te interessam...

Estórias na Caixa de Pandora

Contém merdas que não te interessam...

13
Ago18

Por um fio(zinho)...

Diz o povo que “mais vale cair em graça do que ser engraçado”.

Ando a sentir isso na pele. E queima. 

Não sou, nunca fui, e dificilmente serei daqueles “lambe-botas”, que se fazem valer do seu charme e encanto para parecer em vez de ser. Mas a merda é que são esses artistas que se safam bem. Os que criam a fabulosa ilusão de serem profissionais competentes e dedicados, ultra empenhados no trabalho.

A mim calhou-me ser honesta e crente que o reconhecimento se faz pelo mérito e pelo trabalho. Ando tão iludida, é o que é.

Quando mudei de equipa de trabalho, fui integrada provisoriamente na equipa de backoffice, sendo que tenho funções diferentes, porque é suposto pertencer a um novo órgão/equipa que, apesar de já estar em plenas funções, oficialmente ainda não foi constituída como órgão no organograma da empresa.

Então, e provisoriamente há ano e meio, estou sob alçada de uma chefia intermédia que é absolutamente intragável.

Sabem aquele estereótipo do funcionário público que entrou para a função pública porque era filho de Sr. fulano tal (e não, não é Eng.º Fulano tal ou Dr. Fulano de tal, ainda é da época em que bastava ser-se filho, sobrinho, vizinho do Sr. de uma qualquer secção pública para se ter acesso direto). E assim se fez o percurso profissional de tal criatura. E teve progressões de carreira porque sim, porque era assim no tempo das vacas gordas. Não era o mérito ou a competência que eram avaliados para crescer profissionalmente.

Estão a imaginar esse estereótipo, que tanta má fama dá à função pública? Pronto, é a chefia que eu tenho, e que ironicamente, o meu trabalho não passa por tal criatura nem de longe nem de perto.

Ora, eu não sou lambe-botas, para o meu trabalho não preciso da criatura para praticamente nada. Portanto ganhei o bilhete para cair em (des)graça perante tal alminha, que me tem feito azedar a paciência. E o que mais me revolta é a diferença flagrante com que trata os colaboradores: há os que fazem o que querem, ausentam-se horas do seu posto de trabalho, passam a vida na net a planear férias, a fazer compras, até a preparar casamentos já se viu, e não há uma chamada de atenção. E há os que nem um quinto disso fazem e estão sempre a ser chamados a atenção e a levar pela cara, como eu há umas semanas atrás, que “bem espremido” trabalho só duas horas por dia. O que engoli para não mandar tal criatura ir chatear o caralhinho.

Houve algo que mudou nos últimos meses: deixei de ser parva e entrar antes da hora, sair muito depois da hora, disponível sempre que se lembrassem de chamar para trabalhar/analisar processos, o que frequentemente acontecia depois do horário de expediente. E há algo que sempre foi meu: não andar a lamber as botas de quem quer que fosse, não andar a dar palmadinhas nas costas, não andar a bajular. Tenho muito trabalho para perder tempo com essas merdas, mas pelos vistos eu é que tenho as prioridades trocadas.

O trabalho já é mais que muito, e sempre sob stress. Junta-se este fabuloso ambiente de merda entre uma equipa que é cada um por si, e ver quem lixa quem, com uma chefia mesquinha, que alimenta o clima de intrigas e confusões, e cujo único prazer na vida deve ser foder a paciência aos outros, et voilá, ando aqui num estado catatónico. Das crises de ansiedade, ao permanente estado de nervos, das insónias ao stress a níveis pouco recomendáveis, sinto-me uma bomba relógio.

Faltam dois dias de trabalho e depois férias. Preciso de me afastar deste ambiente como preciso do ar para respirar. E é só que penso neste momento. Ir para longe daqui. Conseguir recuperar forças, energias, regenerar-me. Mas e para quê? Para depois voltar para a mesmíssima merda e em dois dias voltar ao mesmo estado anímico?

Preciso de mudanças. Porque como isto está, não vai dar para aguentar muito mais tempo sem cair num esgotamento ou depressão.

 

27
Jul17

Week mood

Semana difícil. Desgastante. A transbordar de trabalho. A fazer um colossal esforço para deixar minimamente controlado o volume absurdo de trabalho que tenho em mãos. Dias a trabalhar entre 9 a 10 horas. Com a energia nos mínimos dos mínimos. Um cansaço extremo. Só ultrapassado por este sentimento:

férias.png

Algo semelhante à euforia dos condenados, que vão riscando os dias no calendário até ao derradeiro dia, aquele em que podem gritar a plenos pulmões (se o fôlego permitir): FREEDOM!!!! 

Pronto, é isto. Falta um dia... já só falta um dia... está quase, quase, quase...

 

09
Jul17

(Ir)reflexões

Terminei a semana com um peso cá dentro. Algo a sufocar-me. Uma vontade de chorar de raiva, de revolta, de stress. Uma vontade de engolir essas lágrimas, porque são inglórias.

Para não andar a matutar no que tanto me incomodava, passei o fim de semana a ocupar-me com tudo e mais alguma coisa. Limpei, arrumei, fui lanchar à praia com amigos, fui jantar ao Agitágueda com outros amigos, passei a ferro, e todos os bocadinhos que tinha livres, pegava no livro e evadia-me para outro mundo. 

Agora estou aqui com aquele ataque de ansiedade, amanhã começa mais uma dura semana, e eu a ranger os dentes com um neura descomunal por ir para junto de pessoinhas de merda trabalhar. Amanhã tenciono entrar mais cedo, antes de todos chegarem, organizar o meu dia, que não vai dar para tudo, mas aceito isso. Não aceito é que me cobrem aquilo que as outras meninas lindas não conseguiram fazer. E sinto-me num limbo. Se não consigo suportar a carga que me deram, serei a incompetente, a ineficiente. Se conseguir, seja a que custo for, então continua assim porque estás a ser capaz e ainda te podemos carregar mais um bocadinho, que é de pessoas idiotas que a malta gosta. 

Na sexta o ambiente era pesado. Ouvi comentários que me revolveram as entranhas. Respondi ácida a algumas provocações, até enfiar os phones nos ouvidos e passar a tarde "isolada" no meu canto a trabalhar feita galega. 

A vontade é entrar muda e sair calada, e começa já amanhã. Sou uma gaja muito porreira, sempre disponível para ajudar e cooperar, mas quando me lixam, quando me pisam os calos, oh não me queiram ver. Não é uma ameaça, é um aviso.

Faltam três semanas para ir de férias. Por isso é inspirar, expirar, esforçar-me por não pirar... esperar para ver quanto tempo dura o tal "provisório", definir bem quais são as minhas funções, e a manterem-se as que têm sido e que motivaram o meu recrutamento para aquele setor, então tenciono solicitar mudança de gabinete e ir para junto da pessoa com quem realmente tenho trabalhado em equipa nos últimos meses, cujos resultados positivos estão cada vez mais à vista. Por isso não entendo esta treta de me atirarem funções das outras, porque coitadinhas, não conseguem. E hei-de eu conseguir acumular funções distintas, de diferentes áreas de intervenção, e ter de dar vazão a tudo e mais um par de botas até quando? E esperam qualidade? Ah ah ah ah

Estou deveras chateada por me estar a sentir assim. Eu que sou pelo bom ambiente de trabalho, pelo coordenar tarefas em equipa, pela interajuda. Só que não se pode remar contra a maré, quando se trabalha com pessoas para quem o trabalho em equipa é algo deste género:

 

Preciso de coragem para enfrentar os dias que aí vêm, mergulhar no muito que tenho em mãos para fazer, dar o meu melhor, e conseguir chegar ao fim do dia de consciência tranquila de quem fez o que podia, o melhor que sabia. Sem sorrisos, sem simpatias, até porque de pouco valem quando temos um alvo nas costas sempre pronto a levar com a facadinha. 

 

06
Jul17

Absurdamente cansada

A esta altura do campeonato as redes sociais enchem-se de fotos de férias: praia, piscina, comidas apetitosas, bebidas exóticas, paisagens deslumbrantes, todo um slogan ao dolce fare nienti...

Para quem ainda anda na labuta, são imagens que fazem exasperar um monge tibetano. 

Eu entrei no modo contagem decrescente, a ver as férias ao longe, por um canudo, ainda tão distantes, e a aproximarem-se, dia a pós dia, a passo de caracol. 

Piora quando os dias se tornam estupidamente longos, exaustivos, quando regresso ao ritmo de não ter horas para sair, como hoje, que saí às 20h. Chego a casa tão derreada e ao mesmo tempo tão frustrada comigo mesma, por me sentir sem tempo para mais nada que não seja trabalho e trabalho e trabalho. Gandhe vai desenrascando os jantares quando eu venho tarde e más horas, o que diga-se a verdade, tem sido quase todos os dias. Agradeço a ajuda, claro, mas ao mesmo tempo há aquele sentimento de incapacidade, de não ter como conseguir pôr a mão a outras tarefas. Falta-me energia para tudo o resto depois que pico a hora de saída. Tenho um sofá novo e ainda nem desfrutei de um serão descontraído no seu conforto, tenho um livro, que andava ansiosa para ler, lido aos tropeções lentos, com direito a cabeça a tombar de sono e olhos a pesar de cansaço. Tenho vontade de fazer coisas no fim de semana, aproveitar as inúmeras atividades que proliferam no verão, mas só desejo, como se a minha sobrevivência disso dependesse, dormir e dormir e dormir. Sinto falta do blog, só que não chego para tudo, muito menos para discorrer banalidades ou opiniões, como quem vai ali à esplanada beber uma mini e bater um papo descontraído com amigos.

Obriguei-me a este desabafo hoje, que me sinto absurdamente cansada e afundada. 

Ontem fui informada pela minha superior que iria acumular funções, "provisoriamente", coisa de uma semanita (ah ah ah), para ajudar as colegas da equipa a despachar processos que estão acumulados, a bater nos limites dos prazos, e que precisam urgentemente de ser tratados. O meu serviço iria ficar parado por "uns dias". Depois, vai-se a ver e não dá para ficar assim parado, a marinar no nada. Então de manhã faço trabalho que compete às colegas, à tarde o meu. 

Não sei se ria ou se chore. Ou se dê um pontapé a alguém quando vejo uma delas a desfilar pelos corredores na converseta, ou a chegar às 10h e a sair cedo, porque "ai tenho de ir ao ginásio", ou a navegar pela net a ver saldos ou viagens para férias... lá diz o povo que quem se f...lixa é o mexilhão. 

Para ajudar o belo estado de espírito que paira por estes lados, está a chover e a trovejar. E eu que tencionava estender as peles e a celulite na praia este fim de semana, estou a ver-me estendida no sofá novo, a tirar-lhe as medidas e a fazer-lhe o devido teste de qualidade, com a intenção de ver um filme ou ler o livro, mas sei que em menos de nada vou cair que nem uma pedra e babar a almofada.

E por falar em almofada, vou ali encontrar-me com a minha. 

 

30
Mar17

Pandora de rastos

Se há adjetivo que me define nas últimas semanas é cansada. Íssima. Hoje passou de nível: ESGOTADA.

Hoje saí às 20h45. Tinha dito ao Gandhe que hoje tinha reunião de equipa, que deveria estar em casa às 20h15. Pois sim. Ele bem que enviou sms a pedir que eu avisasse quando saísse para pôr o peixe a grelhar. Ainda bem que o fez, senão comia o peixe frio. Estava a enviar-lhe sms a avisar que estava a sair e recebo um eufórico telefonema sobre um jantar que estava combinado para dia 22 de abril, sábado. Apeteceu-me cortar os pulsos. Amanhã tenho um jantar de despedida de um colega de trabalho (da minha anterior equipa) que se reformou. Nem imaginam o esforço que tive de fazer para dizer que sim. Porque tenho tanta vontade de ir como de furar os olhos com um prego ferrugento.

Sinto-me tão esgotada, mas tão esgotada que só quero sossego. Que me deixem em paz, que me esqueçam, que me deixem dormir, estar sozinha, em silêncio, sei lá. Odeio sentir-me assim. A falhar completamente com as pessoas. Mas não consigo ter forças para mais. Não sinto pontinha de energia para o que quer que seja. 

Alguém me ligue às máquinas, porque está difícil manter-me de pé.

A parte boa (ou não): continuo a emagrecer. Confirmado ontem em mais uma consulta na nutricionista. Podia rejubilar por ter perdido cms de anca e de cintura, por ter perdido peso. Podia. Mas isto é um dos reflexos do estado degradante em que me encontro... e isso não é propriamente motivo para júbilo.

 

 

15
Mar17

Pandora, a sebastianista!

Longe de associar o epíteto do título ao messianismo. É mais esta a alegoria: Pandora, a desaparecida em combate que regressa num fim de dia nublado, a adivinhar chuva. Tempestade da grossa. 

Sim, estou viva. Ninguém diria. Eu bem que podia ser contratada para o elenco de Walking Dead, o que eles poupavam em caraterização. As olheiras assustam, a pele anda pálida, nem o BB Cream com umas pinceladas de pó bronzeador disfarçam a palidez da minha figura. Mas pronto, como fui pintar o cabelo no sábado e mantenho o vermelhão, a pele deve achar que ruiva à séria é cara pálida. Num todo, sou uma figura esquálida. O que significa que estou magra. Acabadinho de confirmar na consulta com a nutricionista. Nem tudo pode ser mau.

Ontem bati recorde. Saí do trabalho passava das 20h. Hoje cheguei primeiro que a chefe e ela perguntou se eu lá tinha dormido. As coisas feias que me passaram pela mente enquanto esboçava um sorrisinho amarelo. Pálido, claro está.

Tento inspirar e respirar. Acima de tudo luto para não pirar de vez. Já faltou mais.

Muito trabalho. Stress. Ansiedade. Muito trabalho. Stress. Ca nervos. Muito trabalho.

Sem energia para nada. Nada mesmo. Sinto-me tão derreada que não tenho vontade do que quer que seja. Sinto-me a falhar com tudo e todos. Sem cabeça para as banalidades do dia a dia de uma adulta, como preparar refeições, sem disposição para pequenos prazeres como ler ou escrever no blog. Tão mas tão esgotada que uma amiga enviou-me um email há duas semanas e como não é nada normal eu não responder "rápido", ela mandou-me sms a perguntar se eu estava bem, se tinha recebido o email, se estava chateada com ela. Céus, senti um soco no estômago por falhar com quem tanto gosto. 

Hoje saí da consulta da nutricionista e olhei para o relógio. Uma hora para o início da aula de dança. Queria ir, mas não sentia forças. Os olhos ardem, a cabeça mói, o corpo quebra. Conduzi até casa. Quero um banho quente e dormir. Mas dormir à séria. Não o dormir inquieto que tenho tido nas últimas semanas.

Frustrada. Ando completamente frustrada. E revoltada também. Tanta luta, trabalho, sacrifício, e cai-me à porta de casa uma bomba relógio que estamos a segurar, com todo o cuidado, até ser o "momento" de a fazer explodir. E vai ser uma grande merda. E vai sobrar para nós, que não temos nada a ver com o assunto. E não consigo prever a dimensão dos estragos. E é fodido ser uma espécie de papel higiénico que serve para limpar a grande cagada que os outros fazem. Já dizia uma antiga colega minha: família, só a sagrada e mesmo essa é presa à parede com um prego. 

O meu desejo mais profundo neste momento era naufragar numa ilha deserta. Longe de tudo e de todos. Cansada, farta de gente egoísta, irresponsável, sem noção da porcaria que faz e completamente nas tintas para os estragos que provoca na vida de quem está no seu canto, a lutar dia a dia pela sua vida e futuro. Uma merda. 

Portanto, de messias que carrega a esperança nada tenho. E vou desaparecer novamente em combate, que isto anda tão negro, mas tão negro, que mais vale remeter-me ao silêncio e solidão. Não há força nem sarcasmo que ajude a suportar tanta coisa... que ainda mal começou. É caso para dizer que a procissão ainda nem chegou ao adro. Imagino quando chegar... Ou não quero imaginar, porque só me passam cenários dantescos pela cabeça.

Era ter um botão OFF, fazer um reset. Sem direito a backup. 

 

26
Fev17

Divã de Pandora (ou mais um desabafo digno do muro das lamentações)

Na sexta bati recorde. Saí do trabalho já passava das 19h30. Ironia é que nesse mesmo dia entrei mais cedo para adiantar serviço, uma vez que ia ter uma formação/reunião de 1h30 à tarde. O trabalho é mais que muito e eu ainda a sentir-me limitada no exercício de funções, a reunião, no âmbito do método Kaizen, atrasou e já acabou fora de horas, e, saída da reunião onde aproveitei para esclarecer umas dúvidas, fui corrigir o preenchimento do meu mapa de serviço, que andava a preencher mal. Ora, quando eu coloquei as dúvidas as chefias viraram-se para as minhas colegas como se elas é que tivessem obrigação de me dar formação sobre o funcionamento do mapa de trabalho e seu preenchimento. Saí em defesa delas, que sim, elas explicam, mas as dúvidas vão surgindo conforme as diferentes situações, e o que é certo é que no fundo, cada uma preenche o dito mapa conforme o que lhes parece melhor. Resultado: não há formação para haver uma norma generalizada e comum a todas as pessoas, é o desenrasca, e ainda nos caem em cima porque não é assim ou assado. 

Cheguei a casa esgotada. Completamente esgotada. E a minha prioridade era mesmo desligar o fim de semana. E desliguei. Tanto quanto pude. Mas vem agora a noite de domingo e já sinto aquele aperto por amanhã estar a picar ponto e ter mais um dia de doidos pela frente. Já estou aqui com as ideias num rodopio a tentar organizar as tarefas, começar por concluir o que não consegui na sexta, depois tratar daquele processo, mais o outro, reunir à tarde com o Sr. Eng. coordenador, saber que assim que entro no gabinete dele não tenho hora de sair e, pior, se ele achar que aquele assunto é ultra urgente, quer tudo feito para ontem, sem ter noção das horas.

E eu sabia. No dia que me anunciaram a mudança andei duas semanas em sofrimento silencioso porque eu tinha uma perceção do que me esperava. Afinal, aquela equipa trabalha na sala ao lado de onde eu estava, e havia (e há sempre) situações em que é preciso apoio de outras equipas de outras áreas, e vimos como ali funcionam (ou não) as coisas.

Mais uma vez recorro ao blog como muro das lamentações. Um desabafo. Um grito que é libertado no silêncio da escrita para me aliviar este stress em que agora vivo dia após dia. Tenho de reaprender a relativizar, a gerir esta carga de stress, tenho de encontrar os meus escapes às horas de trabalho completamente alucinantes que agora tenho. Se antes conseguia umas escapelas refrescantes ao blog, aos outros blogs, agora confesso que tenho tardes que nem paro para lanchar ou só vou à casa de banho quando já não aguento mais a bexiga a explodir. E mesmo assim... saio tarde. 

É sobejamente conhecida esta característica no mundo profissional português: somos dos países com maior carga horária e menor produtividade. E se há casos em que as pessoas andam a fazer ronha o dia todo e só ao fim do dia é que trabalham, porque até fica bem na ficha profissional sair fora de horas, também há realidades em que os procedimentos são tão cheios de merdinhas que só empatam em vez de agilizarem. E na minha realidade atual é este o caso. São tantos procedimentozinhos da treta que só empatam. O Sr. Eng. dita-me um e-mail, urgentíssimo. Mas mesmo tendo-o ditado, quer vê-lo antes de ser enviado. Qualquer correspondência que saia para um cliente tem de ser validada e assinada superiormente, qualquer uma, mesmo a mais banal, corriqueira e inócua, como um agendamento ou um cancelamento de serviço. Há casos importantes que justifica esta validação, mas outros há que é puro desperdício de tempo, e o tempo é precioso e escasso. Mas é assim. E confesso que isto me faz sentir burra. Parece que mesmo a escrever um mail que me foi ditado, o mesmo tem de ser revisto, como se eu estivesse na escola primária e a professora fosse verificar os ditados a ver se havia erros. Começo a duvidar que saiba escrever o meu próprio nome. E toda esta realidade ultra burocrática numa empresa que abraçou o método Kaizen, a filosofia 5 S's para agilizar procedimentos e eliminar desperdícios. Só me apetece rebolar no chão a rir com a hipocrisia. 

E amanhã é segunda e começa tudo de novo... vale que terça é uma espécie de feriado, sempre alivia um pouco a carga. 

Aos leitores, amigos e simpatizantes aqui da Caixa, as minhas sinceras desculpas. Pela ausência e por, quando até aqui venho, desfiar o rosário. Já faltou mais para o blog mudar de nome. O Divã de Pandora ou o Muro das Lamentações de Pandora seria mais adequado, não?!

 

06
Fev17

Pandora em (re)construção

Sou daquelas pessoas a quem a mudança custa. Há um certo friozinho na barriga, borboletas que esvoaçam, numa ténue excitação pela mudança, pelo desafio a superar, enfim, a mudança que seja para melhor e apesar de ter noção que custa ao início, é para crescer, aprender e melhorar. Mas custa. Umas pessoas a mais que outras e a mim custa-me horrores. Tirarem-me da minha zona de conforto, das rotinas confortáveis, é como arrancar-me o chão debaixo dos pés. Sinto-me em queda livre. 

Juntar isto da mudança ao facto de eu não ser a pessoa mais confiante do mundo, a anos luz disso, há o medo. Medo de falhar. Ponto. Sou demasiado, excessivamente exigente comigo própria. Tenho um terrível medo de falhar e defraudar expetativas alheias. Ora, quando me recrutaram para a atual equipa com o argumento de ser um reforço "especializado", um excelente reforço para a equipa e o trabalho a desenvolver no dito plano de melhoria contínua (ahhh a filosofia Kaizen a imperar o modus operandi), eu sinto pressão. Tendo noção que tenho muito a aprender até ter algum domínio e, consequentemente, autonomia nas tarefas, este discurso que bem sei que é motivador e encorajador, em mim bate com uma repercussão de pressão: Pandora, vais falhar e vão ver que estavam enganados a teu respeito. Pumba. Assim. Verdade, confesso-me: sou a última a acreditar ou confiar em mim, a ver as mesmas capacidades e competências que os outros me atribuem. Lido melhor com a crítica que com o elogio. Freud explicaria, provavelmente, pela minha história de vida, a educação que tive, a infância dolorosa que enfrentei, os pais que sempre me exigiram uma perfeição que não existe, tão imperfeitos eram eles. Sei bem que são as marcas forjadas em mim, ao longo do meu desenvolvimento pessoal e afetivo.  Tenho de lidar com isso. Vou tentando, mas em situações limite, como esta, que me arrancam do meu porto seguro e me atiram a um tanque de tubarões, todos os meus medos e inseguranças vêm ao de cima, dominando o meu pensamento.

Portanto, com estes ingredientes pouco mais faltava para ter a receita completa de um verdadeiro cocktail molotov emocional. Junte-se a chefia que me ignorou durante um bocado até me mandar sentar ao pé das colegas para as ver trabalhar e ambientar-me, ao facto de no meu segundo dia naquela equipa me caírem perto de 400 processos que estão em atraso, que uma equipa de x pessoas não teve tempo de tratar nos últimos seis (ou mais) meses e agora caem-me para eu ir recuperando trabalho, à medida que vou aprendendo. Bonito.

Resultado? Um belo de um ataque de pânico e ansiedade que me atirou a um choro compulsivo, falta de apetite, vómitos (tais eram os nervos), umas noites em claro, e a verdadeira sensação de pânico, de gritar que não sou capaz e nem vale a pena insistir.

Vale-me que isto vem, explode, queima, mas depois encarno a Fénix que há dentro de mim e renasço das cinzas. Recupero um pouco a calma, domino a ansiedade e aceito que tudo isto é o caos de um início, que é normal que seja um enorme novelo de lã embrulhado e cheio de nós, que até achar uma ponta e começar a fiar, devagarinho, a aprender e a apanhar o ritmo, leva o seu tempo. Afinal Roma e Pavia não se fizeram num dia, e eu não sou a super mulher, com super poderes, tão pouco sou uma espécie de D. Sebastião que chega numa manhã de nevoeiro e salva o mundo do caos. 

Está a custar. Sim. É complicado estar ainda muito dependente das colegas, que me vão passando informações e procedimentos à medida que eu vou olhando para os processos que me atribuíram, os analiso, e começo a chegar às minhas conclusões para lhes poder dar seguimento. O caminho a percorrer é longo, muito longo. Aceito. E aceito-me nas minhas limitações, comuns a qualquer mortal. E as colegas acabam por ir partilhando comigo as suas experiências e dificuldades de quando ali começaram. Uma confessou-me que durante dias, senão semanas, chorava todas as manhãs antes de ir trabalhar. E hoje está ali como uma das mais experientes na área. Tempo. E paciência. 

Espero chegar o dia em que recorde estes primeiros dias de fevereiro de 2017 com um humor negro, a gozar comigo mesma, com o drama queen. Quando esse dia chegar, sei que ultrapassei as dificuldades e estou a superar o desafio. Até lá, venha a sabedoria nas ações e a fé em mim própria. Do desesperante "eu não sou capaz" que venha um esperançoso "sim, eu consigo"!

 

Nos entretantos, de tão absorvida que ando, não há cabeça ou disponibilidade para blog e leituras blogosféricas, para o livro que estava tão entusiasmada para ler e tem estado ali, em modo pausa, entre outras coisas, as pequenas coisas que me servem de escape para o dia a dia. Também isto precisa de ser ajustado ao novo ritmo, à nova rotina. Ou até eu conseguir ter novamente um ritmo e rotina instalados, para que possa dispersar a minha atenção para outras vertentes, como quem faz uma pausa para um café. 

Por ora, fico-me pelo desabafo, como quem procura organizar as ideias e o caos em que a mente mergulhou...

 

02
Fev17

Dia 1 de fevereiro de 2017

Acordo com um nó na garganta. Uma vontade de esconder o corpo e a alma debaixo do edredão. O dia de mudar de posto de trabalho chegou e eu tremia. 

Lá me levantei. Tratei dos gatos. Tratei da minha lancheira. Tratei do meu pequeno almoço. Para me ajudar a relaxar, troquei o chá verde por um da Yogi Tea, cheio de especiarias e com um aroma capaz de anestesiar as angústias mais ferozes.

As saquetas da Yogi Tea trazem uma mensagem, como os bolinhos da sorte chineses. E eis que me deparo com esta bela mensagem, exatamente no dia em que toda eu era medos e angústias:

IMG_20170201_081139.jpg

A minha sabedoria no primeiro dia cedeu aos nervos que tenho vindo a acumular nas últimas semanas. Bastou sentir na pele a falta de liderança e a chefia de treta que tenho a partir de agora, para me cair sabedoria e confiança aos pés, e acabar escondida pelos cantos que encontrasse a chorar de nervos e raiva.

Finalmente na hora de almoço pude respirar. Acalmar. Lavar a cara. Respirar fundo. Recordar aquilo que o destino me lembrou de manhã, pela hora do chá: ter sabedoria e fé.

 

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