Ainda que já tenha estado naquela situação, passado pelos mesmos sentimentos, ver alguém de quem gosto a passar por isso deixa-me assim, sem chão, meia aturdida, sem saber que dizer para confortar. Talvez porque saiba que, no fundo, pouco ou nada conforta nessas horas.
Esta semana uma amiga, que conheci no atual emprego, recebeu a carta de rescisão de contrato. Deixou-me surpresa. Não esperava. Sei que ela não se sente bem e anda a definhar a cada dia que passa. A chefia deixa muito a desejar, o ambiente da equipa onde está inserida é um pouco de cortar à faca, as funções que ela tem não fazem justiça às capacidades e competências dela, e sei que ela merece melhor e procura por melhor. Ainda assim, receber uma carta e um telefonema da empresa de outsoursing a comunicar que termina funções a 30 deste mês é um murro no estômago. É um tirar do tapete debaixo dos pés, mesmo para quem vai trabalhar apenas para ter uns trocados ao fim do mês.
Eu já tive assim uma experiência. Quando me disseram, num emprego anterior, que o contrato não seria renovado fiquei simultaneamente aliviada, por me ver livre daquilo, e angustiada pelo desemprego que se seguia, sem perspetivas de nada, com a exata noção de como o mercado de trabalho está difícil.
Hoje comprei um livro para lhe oferecer como um pequeno mimo, não como despedida, mas um carinho num momento mais complicado. No ano passado ela deu-me a conhecer o autor Joël Dicker, quando me emprestou o livro A verdade sobre o caso Harry Quebert. Depois de ler a boa crítica da Magda sobre o seu mais recente trabalho, hoje, na ida ao supermercado, decidi comprar O Livro dos Baltimore. Escrevi uma pequena cartinha, em jeito de dedicatória, de apoio, mas como nestes momentos as palavras embrulham-se na ponta dos dedos, atordoadas pelas emoções, deixei-lhe estas palavras de Pessoa...
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…
E estou aqui, de coração pequenino... Estas merdas custam!!!