Altos e baixos, tempestades e previsões de bonança
Eu sei, eu sei, ando meia ausente, incerta por estes lados, e quando venho é quase sempre em lamúria por um ano fodido que está a ser 2019. E dizer fodido é ser simpática.
No entanto, e dando uma de Gustavo Santos, o guru dos clichés, eu posso não controlar o que acontece, mas está nas minhas mãos decidir que importância dou ou o que faço em relação ao que acontece. É o meu poder. E é um poder do caraças, digo-vos já. Por que isso implica tomar as rédeas da vida que é a minha e só minha, da pessoa que sou eu e cujo bem estar depende inteiramente de mim, e só de mim.
2019.
Um ano marcado por falecimentos (a avó do Gandhe, o pai de uma amiga muito próxima, e o mais recente o meu avô paterno).
Um ano marcado por doenças graves de pessoas ou familiares de pessoas que me são próximas ou extremamente especiais para eu sentir a dor que elas sentem e estar aqui, muitas vezes sei lá como, para lhes dar o apoio que necessitam.
Um ano que, em pouco tempo, a mãe dele foi fonte de aflições e preocupações: primeiro teve um grave acidente de carro que nos deixou sem pinga de sangue, mas do qual saiu milagrosamente ilesa. Houve o prejuízo do carro, que foi para a sucata e, sem contar, teve de comprar outro. Do mal o menor. Um tempo depois, e num espaço de 48h, duas crises cardíacas graves, muito graves, que nos deixaram literalmente de coração nas mãos e por pouco não suspendemos as férias de verão. Acabou tudo por correr bem, devidamente medicada e nós com olho atento, tem estado tudo calmo. Por enquanto. Porque ela e o problema cardíaco que tem são uma bomba relógio.
Um ano marcado por constantes desavenças e desentendimentos com o Gandhe... o ano do nosso 15º aniversário (que por pouco nem lá se chegava) tem sido desgastante para ambos, temo-nos deixado levar por uma série de fatores externos, sinto que estamos a remar em direções opostas, com prioridades diferentes, pior, sinto-me sozinha numa relação em que eu tenho ficado para depois porque aparecem sempre outras coisas muito importantes e inadiáveis. Por dois momentos a minha aliança esteve em cima da mesa, num tudo ou nada, assim não quero, não sou feliz, não é o que quero na minha vida nem no meu futuro. Note-se que a segunda vez que isto aconteceu foi há duas semanas. Invariavelmente é quando bate no fundo que ele reage. Que ele mostra o que sente. Que ele luta por mim, por nós. Há duas semanas ele deixou-me sem palavras com todo um discurso em que se expôs emocionalmente como muito poucas vezes o vi expor-se nestes anos todos. E acreditei na força do que nos une, mais do que tudo o que nos parece querer afastar.
Estes dias de férias em que estive parcialmente sozinha pude dedicar tempo a mim. Também preciso. Dormir, passear, ir tratar da beleza (ajuda ao ego e à auto estima), check up na nutricionista, ir às minhas aulas de dança nas calmas, sem a típica correria do sai do trabalho, come qualquer coisa e corre para não chegar (muito) atrasada. Tive um jantar de amigas. Fomos dançar. E rir. Muito. Comprei uma mini saia de pele (sintética). E senti-me bem. Fui até à praia com o Gandhe (que fez um esforço para, nas horas depois do trabalho, estar comigo, compensando a falha de não ter marcado as férias para esta semana estarmos juntos). Respirei a maresia, ouvi o som das ondas, contemplei um horizonte com uma mistura de nuvens, raios de sol e água. Senti a areia nos pés. O vento no cabelo. Bebi um chocolate quente. Andámos a explorar novos sítios na cidade. Jantámos num sítio diferente (novo para nós). Tivemos tempo para nós, e também para as coisas de cada um. Um bom equilíbrio, que é o que mais nos tem feito falta. Quase que fomos para fora dois dias, acabámos por não ir. Não faz mal. O tempo foi bem aproveitado.
E, como que a marcar uma nova fase, hoje vieram almoçar connosco, cá em casa, a mãe dele e o meu pai. Foi um agradável almoço de uma família que tem perdido tanto e não tem sabido encontrar um rumo que leve a uma união. Somos poucos, contamos com tão poucos e mesmo assim não nos unimos, não nos procuramos, ficamos sozinhos, cada um na sua bolha. Aproveitei que o meu pai faz anos hoje e convidei para almoçarem cá em casa, fiz uma surpresa com o bolo, conversámos sobre muitos assuntos... e foi bom. Há tanto tempo que não me sentia "em família".
2019 tem sido um ano duro. Sofrido. Penoso. E está nas minhas mãos retirar as lições que a vida quer que eu aprenda, enfrentar as dificuldades e obstáculos com uma postura mais serena, espero que mais sábia, no fim de tanta provação... porque, e recordo uma frase que a Alice partilhou, "o desgosto e a alegria dependem mais do que somos do que daquilo que nos acontece". Portanto, há que arregaçar as mangas e erguer a cabeça, ser eu, inteira, sem medos, ou que seja com medos mas que haja coragem de ir, com fé e confiança em mim e no caminho que escolho trilhar. Quem quiser acompanhar-me, a minha mão está estendida e o meu coração agradece. Quem quiser ficar pelo caminho, só tenho a agradecer as histórias vividas e partilhadas e entender que há algumas pessoas que ficam pelo caminho para que outras melhores possam aparecer, há histórias que têm de terminar para que outras possam acontecer. E acima de tudo: deixar a vida acontecer, porque ela dá muitas voltas, e escolha eu o caminho que escolher, hei-de chegar onde tenho de chegar, com as pessoas que me quiserem acompanhar.