Caro vizinho
Cada um gosta da música que bem entende, há gostos para tudo. Se queres ouvir kizomba, tudo bem, eu quando vou às festas latinas, volta e meia até danço uma kizomba. Se queres ouvir Quim Barreiros, é contigo, ninguém faz trocadilhos linguísticos e jogos semânticos como ele, se estás numa de passar o CD com os grandes êxitos do Tony Carreira, pá, são gostos, não se pode negar que é um grande nome da música portuguesa.
Mas por favor, e por respeito aos que moram no mesmo prédio, ou a quem passa na rua, numa tarde de domingo de pasmaceira, baixa o caralho do volume, que eu não tenho de estar a levar com o teu baile privado dentro da minha sala, refastelada no sofá, a tentar ver uma série.
Estive à beira de um ataque de nervos, quase quase a entrar em histeria e ir tocar-te à campainha, de pijama, para te chamar a atenção. E passou-me pela cabeça fazer uma espécie de desgarrada: tu com Tony Carreira e eu com Rammstein ou Slipknot com o sound surround a topo nas cinco colunas. O problema é que para o resto da vizinhança, eu seria pior que tu. E era preciso que tu percebesses a mensagem. O que eu duvido.
Portanto, por agora leva o administrador do condomínio um recadinho. Se cair em saco roto, passo à estratégia de Rammstein ou Slipknot.
Nada a agradecer. Que eu também não agradeço ter passado a tarde de domingo a ouvir o Sonho de Menino e o Vagabundo de Tony Carreira, como se estivesse em plena romaria da Senhora dos Remédios (ou das Necessidades).