Dia estranho
Dia estranho, este. Paira no ar uma atmosfera pesada, um silêncio sepulcral. Os semblantes estão carregados, e pelas paredes ecoam pequenos murmúrios: os detalhes que alguns curiosos procuram saber, a perplexidade geral que atingiu todos este fim de semana.
Faleceu uma colega de trabalho. A notícia espalhou-se no sábado, qual fio de pólvora seca.
Foi encontrada sem vida, em casa.
Reconstroem-se os últimos passos, as últimas palavras, os últimos telefonemas. Procura-se preencher as lacunas de uma história cujo desfecho atingiu toda a comunidade e a todos deixou em estado de choque.
A vida continua, os ponteiros do relógio não param, as horas seguem, e olhar para a secretária vazia, ainda com tudo o que lhe pertencia em cima, é uma visão dolorosa para quem partilha o open space. A crua confrontação com a mortalidade. A do outro e a nossa.
Nos rostos vêem-se diferentes expressões. Há os que calam as emoções dentro de si, há os que choram. Há sobretudo perplexidade e contenção. Nas palavras. Nos gestos. Nos olhares que se desviam do desconforto das palavras.