Dizem que é o thriller do ano
Nunca presumas. Questiona tudo. Olha sempre além do óbvio.
Uma palavra: UAU! Devorado em seis dias (para compensar os dois meses que andei a engonhar o outro).
Não é só bom. É muito bom. É mais que bom. A sério que é o primeiro livro da autora?!!! A fasquia está elevada para os vindouros. E se tiverem esta qualidade, que venham muitos.
O Homem de Giz está tido como o thriller do ano. Ainda o ano "agora" começou, seria demasiado cedo para tal classificação. Só que acredito nela. Dificilmente surgirá num futuro breve outro assim. Quiçá Joël Dicker publique algo comparável ao A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, ou O Livro dos Baltimore. E talvez este Homem de Giz seja destronado.
Quero tanto escrever livremente sobre esta obra, e ao mesmo tempo não quero ser spoiler e estragar o prazer que é desbravar as páginas, capítulo a capítulo, entre 1986 e 2016, até ao sublime desfecho que nos surpreende e simultaneamente nos deixa com aquela sensação de quem chegou ao fim de um complexo puzzle e pode, finalmente, ter a visão global.
A trama é-nos contada por uma personagem, Eddie. Sabemos que um narrador que é, simultaneamente, personagem é um narrador altamente subjetivo e falível. Os factos narrados são os que ele conhece, ou presume conhecer, as verdades que sabe, ou presume saber. E é nesta visão altamente subjetiva e parcial de factos e de verdades que vamos sendo guiados pela voz de Eddie, que em 2016 tem 42 anos, é um solitário e perturbado professor de inglês, e que em 1986 tem 12 anos, é um adolescente introvertido, solitário e um tanto ou quanto desequilibrado, embora tenha um orgulho desmedido em pertencer a um grupo de amigos, todos diferentes entre si, e todos com as suas desestruturadas bases familiares. Vamos avançando nesta intrincada história com relatos alternados entre 1986 e 2016. E como um puzzle, vão-se juntanto as peças, às vezes parecem não fazer muito sentido, às vezes há peças soltas, desgarradas, não parecem encaixar em lado algum, mas ali estão e em algum sítio vão encaixar.
É esta a metáfora que uso para refletir sobre este livro: é um puzzle. Um puzzle que tem uma linha temporal de 30 anos, um puzzle onde as peças do passado e do presente se vão encaixando até chegarmos ao fim e podermos olhar para um todo e, então, perceber tudo, ou quase tudo. O desfecho surpreende. Traz respostas. Mas surpreende. E fica aquela sensação estranha de quem não estava nada à espera daquilo.
Que mais posso dizer? Toda a gente tem segredos...
É uma trama onde as personagens presumem verdades. Onde as intenções, mesmo as mais inocentes, podem conduzir a tragédias. É um enredo que me fez recordar o conhecido Efeito Borboleta, da Teoria do Caos: o bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
Presumimos porque é mais fácil, mais cómodo. Não nos obriga a pensar muito sobre as coisas que não nos agradam. Mas não pensar pode levar a não compreender e, em alguns casos, à tragédia. (...) Presumir pode levar-nos a outro tipo de enganos. Deixamos de ver as pessoas como de facto são e perdemos noção daquelas que conhecemos.
Tem tudo para ser uma excelente adaptação ao cinema. Desde que não estraguem a obra original...