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Estórias na Caixa de Pandora

Estórias na Caixa de Pandora

17
Abr14

Estórias dignas do Divã de Freud

Um blog, para mim (desde que comecei nestas andanças, com outro nome, noutro espaço), sempre foi uma espécie de diário. Escrevo o que sinto, penso, vivo nos meus dias, escrevo as minhas memórias, as cicatrizes que as pessoas que trilharam na minha vida me deixaram. Escrevo as minhas ironias e sarcasmos, escrevo as minhas opiniões, escrevo sobre o que gosto e não gosto. Sou eu. E assumo o que sou.

Quando me decidi a mudar de blog não foi para esconder o que sou. Foi apenas para que pessoas que retirei da minha vida não tivessem acesso a nada meu, e o blog é onde sou eu, exatamente como sou e sinto e penso e vivo. Sem filtros ou máscaras. Talvez por isso é que meninas que já referiram este blog no Follow Friday me tenham descrito como: curta e grossa. Encaro como elogio. Porque é como me assumo: transparente e genuína. Honesta até demais.

 

Estes dias houve algo que despertou um dos meus maiores esqueletos do armário, ou fantasmas (ao estilo de Scruges). E, coincidência ou não, leio este post da Maçã.

 

Em tempos levei com tanta coisa da minha família, que se contasse não acreditava. Um dia dei o grito do Ipiranga e estabeleci os meus limites. A ver se mais alguém se arriscou a abusar da minha boa vontade? 

 

Vejo-me ao espelho nesta afirmação da Maçã. Pelo menos na primeira parte, porque ainda não consegui dar o grito do Ipiranga com a única pessoa que me fez descer ao inferno, ver o que há de pior em mim, e fez-me acreditar que sou um monstro: a minha mãe. 

 

Talvez tenha mesmo de começar a exorcizar histórias do passado, histórias que me marcaram a alma como ferro em brasa. Histórias que, precisamente a meio da minha vida, aos 16 anos, culminaram numa primeira tentativa de suicídio. Dois anos mais tarde outra. E teriam havido outras se não tivesse ido buscar uma força não sei onde, agarrado uma esperança em não sei o quê e sobrevivido até, finalmente, ter saído de casa. 

Sair de casa não resolveu. Como sempre, há fases mais pacíficas, mas a tempestade virá. E vem. Sempre. Acreditei que o sair de casa colocaria ponto final nessas tempestades. Não pôs. 

 

Há meses que não vejo a minha mãe. O último contacto que houve foi meu e levei com os cães em cima, com calhaus e o telefone desligado na cara (e liguei-lhe apenas para a informar que o tio/padrinho dela, com quem está de relações cortadas há anos - basicamente está de relações cortadas com todos os familiares há imenso tempo -, tinha falecido). No Natal passei em casa dela, vi tudo fechado, trancado, às escuras. Vim embora pelo mesmo caminho. 

Dela nem sinal de vida, até ontem, quando me apercebi de uma chamada dela, que não atendi. Devo devolver a chamada. Um dever moral, diria. E tremo quando penso nisso. E não posso. Não sou uma miúda dependente dela, sem ter como me defender dos seus ataques. Tenho 32 anos, levo uma vida totalmente independente, e mesmo quando estou com problemas, ela é pessoa quem nem em sonhos me passa pela cabeça pedir ajuda. 

Talvez esteja mais que na hora. Devolvo-lhe a chamada e não me deixo abater. Não a deixo pôr a pata em cima, humilhar-me, fazer-me sentir a grande ingrata, o monstro que ela sempre pintou. Um dia tenho mesmo de enfrentar este esqueleto, pegar o touro pelos cornos e mostrar-lhe que há limites. Até para uma mãe há limites. 

 

 

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