Leitura das férias
Não é a primeira vez que escolho Joanne Harris para leitura de férias. Nas férias quer-se algo leve, algo que nos faça sonhar, suspirar, algo que nos transporte para outros lugares, de preferência encantados.
Vinho Mágico foi a escolha. E que escolha... Quero acreditar que o universo me levou a escolher este livro para estas férias especificamente. Numa altura em que luto contra a ansiedade que o trabalho me provoca, numa altura em que me debato com uma infelicidade no emprego que me angustia e me tira o sossego, eis que leio uma história sobre um escritor em crise, com um bloqueio criativo que lhe tira o sentido da vida, da existência, ao mesmo tempo que se debate com memórias de uma infância peculiar e do seu amigo muito sui generis,Joe, que um dia desapareceu e o deixou com aquela sensação de abandono e vazio.
Num impulso decide mudar-se de Londres para uma pequena aldeia em França, Lansquenet, a mesma aldeia que serviu de cenário a Chocolate, e onde vamos reencontrar algumas das suas personagens. Um impulso que lhe devolveu o gosto pela vida, lhe trouxe as memórias do passado e a sua reconciliação com Joe, e consigo mesmo. É uma história que apela aos nossos sentidos, como Joanne Harris tão bem sabe fazer. Sentimos os aromas, os odores, quase que sentimos os sabores e, se fecharmos os olhos, não é difícil imaginar, com todos os nossos sentidos, o que nos é relatado com uma certa magia e encantamento.
E terminado este livro na minha última ida à praia (e que bela tarde esteve) só me sinto inspirada para largar tudo, assim num impulso, e ir para um pequeno monte no Alentejo, onde posso respirar sem amarras, sentir-me livre e em paz, onde posso entreter-me num quintalejo enquanto os gatos dormitam pelas sombras.
Por uns momentos deixo-me levar por esta imagem idílica, nesta doce ilusão de que tudo é possível. Só que não.
Amanhã é dia de regressar ao inferno... e estou a tentar manter-me relaxada e calma.