Leitura de janeiro: Um Homem Chamado Ove
Antes de mais, eu adorei o Ove. Das críticas que li, é quase unânime as pessoas não gostarem desta personagem, o acharem estupidamente irritante e arrogante.
Não sei porquê, vi desde início neste homem duro, de rotinas rígidas, de perspetivas muito na base do "preto no branco", um ser humano que era preciso ir descobrindo as várias camadas.
Ove não teve uma vida fácil. Ove perdeu muita coisa na vida. E portanto regia-se pelos valores de humildade, trabalho, sacríficio, regras a cumprir que o seu pai lhe transmitiu, valores esses que levou pela vida fora. Ove era um homem do preto-e-branco. E ela era cor. Toda a cor da sua vida.
O homem aparentemente amargo tinha, na verdade e literalmente, um enorme coração. Teimoso nas suas convicções, persistente no cumprimento do que considerava ser regra e não se podia quebrar, a verdade é que não virava as costas a quem precisava de ajuda. Mesmo que rabujasse, que se mostrasse contrariado, mais não era que a sua carapaça, a sua defesa perante uma vida que lhe fora difícil. E aos 59 anos, perde a cor da sua vida (a mulher que tanto amava e continua a amar com uma devoção tremenda), é empurrado para uma reforma antecipada e de um momento para o outro sente-se inútil, vazio, sem saber o que fazer. Decide suicidar-se. E aqui começam uma série de acontecimentos que interrompem Ove nas suas intenções, ou que o fazem adiar porque alguém está a precisar dele, e afinal ele ainda pode fazer algo e ser útil.
Diverti-me com o Ove, com as histórias da comunidade que o começa a cercar e a entrar sem pedir licença na vida dele. E compreendi a tristeza e amargura que faziam parte do seu ser, à medida que a história da sua vida, desde tenra idade, ia sendo contada.
Eu adorei o Ove.