Leituras de verão
Na segunda quinzena de julho, depois de ler O Boneco de Neve, escolhi outro thriller de uma autora de quem já tinha lido um livro.
A Mulher Desaparecida, de Sara Blaedel (considerada a rainha dinamarquesa do thriller?) é um thriller razoável. Faz lembrar um episódio de uma série policial, onde investigação de um crime se mistura com a vida pessoal dos protagonistas. Não foi mau, mas também não foi nada que me causasse aquela sensação de wow, por esta é que eu não esperava.
O enredo está bem construído, a determinada altura há ali um pequeno twist, bem conseguido por sinal, que conduz à revelação do assassino. O contexto da trama é um tema polémico que volta e meia está na ordem do dia da discussão pública: o direito à eutanásia. Tema que poderia ter sido melhor explorado, na minha opinião. O assassino não é um cruel e impiedoso serial killer ou psicopata, é antes um assassino passional, pois move-o um sentimento (irracional) de vingança provocado pela dolorosa perda de uma pessoa que muito amava.
Tem uma escrita fluída, não se perde em muitos detalhes e pormenores, conduz bem a narrativa, e sim, vale a pena ler. Da mesma autora já tinha lido Raparigas Esquecidas que, mais uma vez, não sendo um thriller inesquecível, também não é daqueles que considero pura perda de tempo.
Se vou ler as outras obras da autora? Provavelmente. Pelas sinopses, a personagem protagonista é um investigadora policial, portanto estamos perante uma saga (espécie de série policial), o que não me desagrada de todo. Como thrillers, pelos menos os dois que li, pode-se dizer que são relativamente softs. Não são daqueles quebra cabeças, constantemente a mudar a direção das pistas, e por conseguinte, dos suspeitos. Por vezes também é bom ler algo mais policial e menos profiler. Eu, pessoalmente, gosto dos mais complexos, que envolvem perfis psicológicos, uma caça a um criminoso que pode ser qualquer um, pois as pistas estão em constante mudança de direção. E obviamente gosto de ser surpreendida no fim, embora também me sinta toda contente quando "descubro" quem é o assassino.
Bem, não consegui acabar de ler antes de ir de férias, pelo que ainda me acompanhou na mala de viagem. Acabei de o ler em viagem (sim, eu leio no carro e sem qualquer "problema", há quem não consiga, a mim não me faz confusão).
Para as férias tinha escolhido o Kafka à Beira-Mar, versão livro de bolso que comprei por uma pechincha na Feira do Livro.
Ora, este livro andou nas bocas do povo há uns bons tempos. Ficou-me na ideia um dia lê-lo. Deixei passar a febre. Haruki Murakami é um aclamado e consagrado escritor da atualidade. Iniciei-me agora na sua obra. E não, não me seduziu. Aborrecido. Tanto que cheguei a adormecer na praia com o livro aberto em cima da barriga (e fiquei um dia com a marca de um quadrado, coisa linda, sóquenão). Esmiuçando, a história tem tanto potencial, mas perde-se em tanta fantasia, o que é sonho, realidade, universos paralelos (e sei que é cultura oriental esta história de projeção de espírito e cenas que tais). Houve umas quantas histórias que ficaram sem um fim, uma resposta, por exemplo, o que aconteceu com aquele grupo de crianças e porque ficou Nakata assim? E aquela história que a professora conta, e fica ali um capítulo solto, sem qualquer ligação, explicação ou lógica, sem acrescentar mais valia no enredo geral. A velhinha história da transição entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Há ali, em termos estruturais, a recriação do que seria uma tragédia grega, as profecias, a fatalidade do destino, do qual não se pode fugir, há na voz de uma das personagens, Oshima (muito interessante, por acaso), aquilo que seria o coro da tragédia grega, a voz da razão, da consciência, da sabedoria. A voz que avisa das consequências das ações e escolhas, e tenta mostrar o melhor caminho a seguir, sendo que a decisão de acatar ou não o conselho é sempre do outro.
Há partes interessantes no livro. Reflexões que nos ficam cá dentro, nos ficam a martelar na cabeça. Há lições de vida que emergem das subtis entrelinhas dos relatos fantasiosos, onde é difícil distinguir o que é real do que é sonho.
Pode ser um tipo de escrita muito interessante para umas pessoas. A mim, confesso, não me prendeu. Aborreceu-me. Senti-me muitas vezes confusa nas várias histórias, nas passagens de tempo e realidades paralelas. Há personagens que são fascinantes pela sabedoria que apresentam, outras que dão ali um cunho mais comum, cómico, realista, há personagens sem interesse, como por exemplo, Saeki-san, que a dada altura parece ser o centro de todo o enredo, a origem das premonições e desgraças anunciadas, mas afinal é apenas um fantasma vivo, com uma história de amor, daquelas eternas e intemporais, que acabou de forma abrupta, mergulhando-a num sofrimento mais atroz que a própria morte.
O percurso de Kafka Tamura faz-me lembrar a viagem de Dante ao inferno. E talvez, no meio deste enredo tão complexo e cheio de artifícios, seja exatamente isto: a viagem de um adolescente de 15 anos em busca de si mesmo, um adolescente que se sente sozinho no mundo, abandonado pela mãe e rejeitado pelo pai.
E pouco mais tenho a dizer. Efetivamente, a escrita de Murakami não me seduziu ou conquistou por aí além. Não sei se darei outra oportunidade, porque até estou minimamente curiosa com o 1Q84. Talvez. Mas não já.
Por ora, vou voltar a uma antiga paixão: romance histórico, com um travo a biografia.
E isto porque o sexto volume da saga Sebastian Bergman só será lançado a 3 de setembro. Sim, já está encomendado. Portanto, enquanto chega e não chega, vou entreter-me com um romance histórico.
Nota: decidi, sei lá que raio de bicho me mordeu, abir conta no Goodreads. Tenho estado a adicionar os livros que tenho na estante e já li. Mas há tantos que eram do meu pai e com ele ficaram, outros que me foram emprestados, outros lidos da biblioteca da escola. Vai ser impossível registar a totalidade de leituras da minha vida. Ainda ando a explorar a aplicação. Ainda estou na fase do "não percebo nada disto, para que raio estou a ter este trabalhão?". Mas pronto, agora que comecei e estou quase, quase a ter em dia, pelo menos a estante de casa, não vou desistir. Seria morrer na praia.