Seis meses... tanto e tão pouco.
Há seis meses atrás vi pela última vez o meu pai com vida.
Dizer que estava vivo é quase um eufemismo. Estava ligado ao ventilador, com falência de vários órgãos e em coma induzido para estar "confortável".
Recebi um telefonema para ir à UCI despedir-me dele. Em tempos de covid em que o acesso ao hospital esta(va) vedado, foi um gesto de cortesia e humanidade permitir que a família próxima pudesse ver o paciente.
Nem 24 horas depois informam-me do último suspiro. E caí por terra numa nova e assustadora realidade.
Estes seis meses pareceram uma eternidade e simultaneamente passaram a voar. Tanta coisa que me caiu nas mãos e exigiu muito de mim. Tanto que procurei ajuda. E cá estou eu, passito a passito, num percurso de autodesenvolvimento, de amor próprio, de aprender a gerir emoções e a fazer um luto extremamente difícil, a aprender a perdoar e a deixar ir todas as culpas que carreguei a vida toda.
Nas últimas semanas tive uma espécie de retrocesso. Deixei-me dominar por sentimentos como raiva, revolta e frustração. Uma maior consicência das emoções e algum knowhow de como as trabalhar permitiram-me gerir esta situação de crise de forma mais equilibrada, sem cair no abismo.
Ontem tive sessão de terapia e com muito orgulho da minha evolução e crescimento, da minha maior consciência e maturidade, permiti-me uma palmadinha nas costas pelo bom trabalho. Estou no caminho certo. Mesmo que por vezes tenha de dar alguns passos atrás.