Sobre-vivendo!
Os dias têm sido difíceis. Quem me conhece antecipará que as minhas ausências são motivadas por isso mesmo: dias difíceis, a vários níveis.
Para começar, muito trabalho. Fui nomeada team-leader de um projeto relacionado com o famigerado RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados) o que me tem valido horas de formação e reuniões.
O trabalho normal do dia a dia, que já não é pouco, continua e não pára de acumular, pelo que na maioria dos dias dava jeito clonar umas quantas Pandoras.
Há um desgaste físico, um cansaço acumulado. Há, também, muito stress. Muitos nervos à flor da pele. Voltaram as crises de ansiedade. A falta de descanso. Vem a falta de paciência. Para tudo.
Aconteceram umas situações profissionais que me derrubaram. Me fizeram sentir uma enorme sensação de impotência, de frustração, também de revolta. Quando se acredita no mérito e na competência, mas se trabalha com uma equipa onde o que interessa é a palmadinha das costas, a hipocrisia e os egos de muita gente, há uma constante luta inglória, condenada ao fracasso dos mesmos. Imaginem de que lado estou?
E tudo isto a troco de um salário de merda, que dá para pagar contas e pouco mais.
Preciso urgentemente de férias, mas as férias vão ser em casa. Não há dinheiro para ir para fora, uns dias que sejam. Está a ser um ano complicado em termos financeiros, cenário que se desenhou logo no início do ano, quando passámos pelo que passámos com a história do acidente e o absurdo de dinheiro que tivemos de adiantar até ter o problema resolvido. Foi um enorme rombo. E como um mal parece que nunca vem só, outros imprevistos aconteceram que se traduziram em gastos não previstos num orçamento não muito avantajado.
Foram-se reservas, foi-se tudo e nos dois primeiros meses a conta bateu no vermelho. Equilibramos as coisas, mas não sobra para férias. E já foi um esforço três dias em Lisboa.
Portanto a frustração aumenta. Tanto trabalho para isto. Tantas horas dedicadas para isto.
Haja saúde.
Pois. Já tenho o resultado da panóplia de análises hormonais que fiz. Ainda não regressei ao endocrinologista (só tenho consulta no fim do mês), mas já as mostrei à nutricionista.
Boas notícias: está tudo bem, os valores estão todos dentro dos parâmetros normais.
Más notícias: voltamos à estaca zero, sem saber de onde vem a extrema retenção de líquidos, o inchaço das pernas, tornozelos, pés.
Nem dá para gozar as boas notícias. Há algo que não está bem. E não há meio de encontrar a origem para poder tratar.
Prevejo uma corrida a especialistas vários, numa demanda que não sei onde vai dar.
Faço o esforço para (sobre)viver. Mantenho as minhas atividades, vou a convívios com amigos, o verão (supostamente) começou e com ele vem uma quantidade obscena de eventos: é tasquinhas, é festas disto e daquilo, as feiras temáticas, este fim de semana tenho na agenda o Vagos Sensation Gourmet e começa o AgitÁgueda, que já é uma espécie de tradição.
Não me rendo a ficar afundada no sofá, fechada em casa, a chorar as mágoas e remoer a frustração. Não me entrego a este cansaço extremo que me suga toda e qualquer energia.
Só que não é fácil.
Dias há que me sinto num pântano de areias movediças e rapidamente percebo que para sobreviver tenho de ficar quieta. Há dias que é simplesmente isso a única coisa a fazer: parar, sossegar, acalmar, serenar. Esperar. Há momentos em que lutar é precisamente PARAR e deixar que a vida se vá resolvendo por si.
E então é isto. Estou num momento em que estou quieta, deixando os dias passar, acompanhando o ritmo da maré, sem remar contra a corrente. Demasiado cansada para isso. E quiçá não será mais sábio, neste momento, simplesmente deixar ir, deixar acontecer, o que tiver se ser, será.