Com pronúncia do norte... e humanidade!
Há muito tempo, long time ago, que este canal não conta com a minha audiência. Mesmo quando faço distraidamente zapping para ver o que está a dar, continuo suficientemente atenta para passar à frente do botão 4.
Não fiquei muito surpreendida com o sururu que se levantou nas redes sociais a propósito deste "erro grosseiro". Exemplos destes são os que validam a minha opção de nem sequer ver tal canal que prima pelo mau jornalismo, pouco profissionalismo, ética duvidosa e nada nada nada imparcial. Mas já diz o ditado, falem bem ou mal, o importante é que falem. E é assim que este canal anda sempre nas bocas do povo. Lamentável.
Não queria comentar. Queria manter a indiferença que mantenho para com esta estação de televisão, num sentido ato de desprezo. Prefiro ver o trash tv da TLC, a ver o que seria suposto ser um serviço informativo de qualidade. Alguma, pelo menos.
Não queria comentar para não ser mais uma a alimentar este erro de semântica que vem levantar as hostes da secular rivalidade Norte/Sul.
Portugal é um país geograficamente pequeno, no entanto é rico e denso em diversidade cultural, regional, gastronómica, sem falar dos séculos de história que carregamos no nosso ADN nacional por sermos um dos países mais antigos. (Recorrendo à educação que tive, seria agora o momento de recordar que o berço de Portugal é no norte... deve ser por isso que é só velhos.) Devemos orgulhar-nos desta nossa identidade nacional e cultural, dos séculos de história, das conquistas e descobertas. Que seria o mundo se não tivéssemos partido à descoberta? Seria como o conhecemos hoje?
Não deixa de ser verdadeiramente triste e lamentável ver num canal de televisão, mais, num serviço de notícias que se quer rigoroso, imparcial e ético, uma frase destas. Não é só um erro grosseiro ou semântico. Não é justificável e tão pouco desculpável.
A par das vozes do norte que vêm defender a sua honra (e estão no seu direito), vêm outros defender o canal e achar que os do norte são umas virgens ofendidas e, burros, não percebem o lapso jornalístico de uma (única) pessoa, que sozinha não faz a equipa nem o canal (isto é que é trabalho de equipa, exemplar!). Cá está, a eterna rivalidade que divide e reduz o país a Norte e Sul, a Porto e Lisboa (espremidos os argumentos).
Eu sou Aveiro. Faço parte do Norte. Sou portuguesa. Com muito orgulho.
Adoro o sul, tenho uma paixão pelo Alentejo e isso não faz de mim menos aveirense, menos nortenha nem menos portuguesa.
No entanto não gostei de ver aquela infeliz frase que reduz uma boa parte do país a gente sem educação e velhos. Puxando os galardões, a Universidade de Aveiro é uma das melhores do país e está bem posicionada no ranking de universidades mundiais, assim como a Universidade do Porto e a do Minho. Se isso é sinónimo de educação e cultura, então o Norte não tem de se sentir ofendido com vozes que vêm "de baixo".
A guerra que estamos a viver é mundial. O vírus não distingue nações, línguas, estratos sociais, contas bancárias, graus académicos... pronúncias . Tanto quanto sei e foi notícia no mundo, desde atores de Hollywood, a príncipes europeus e dirigentes políticos, o vírus apanhou de tudo um pouco. Se calhar acaba por ser mais inteligente que nós, porque só "reconhece" seres humanos, enquanto nós andamos aqui a discutir teses verdadeiramente científicas de que o vírus contamina essecialmente pobres e sem educação e velhos isolados no norte...
O corona vírus veio mostrar-nos a vulnerabilidade do ser humano. Somos todos iguais, apesar do tanto que nos distingue ou que usamos para nos distinguirmos.
Agora, mais do que nunca, é momento para estarmos unidos e solidários com os nossos pares e semelhantes. Em todo o mundo. E por isso alimentar esta rivalidade bairrista é só idiota e completamente ridículo. Numa altura em que enfrentamos o mesmo inimigo, faz-me pensar que afinal a humanidade não está a aprender a lição de vida implícita nesta pandemia.