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Estórias na Caixa de Pandora

Estórias na Caixa de Pandora

10
Jun19

Cenas que me fazem ter reflexões pouco profundas

Em Aveiro, junto ao Fórum, ou melhor, um dos acessos ao Fórum (um dos centros comerciais da cidade) existe esta ponte pedonal, em madeira, que está toda enfeitada com fitas coloridas. Não sei bem como nasceu a ideia, mas pegou e o certo é que é um dos principais spots da cidade para as fotos turísticas e para as redes sociais. Nada contra. A ponte é lindíssima com todos aqueles laços coloridos esvoaçantes, com o canal da ria como cenário e não é preciso esperar muito para apanhar um moliceiro a passar para ficar o cenário completo para a foto. 

O que é chato? A malta que só quer passar de uma margem para a outra. Ou vai dar uma volta ao bilhar grande para atravessar noutro ponto, ou anda ali num verdadeiro jogo de obstáculos, como se estivesse a percorrer o interior de um relógio, e tivesse de contornar roldanas e aguardar a passagem dos afiados ponteiros. 

O que é engraçado de ver? As poses. Senhores, o que eu me divirto com o ridículo (a sério, torna-se ridículo) dos tempos infinitos que as instagrammers (topam-me a léguas este tipo dos restantes, que só querem uma foto para mais tarde recordar), as múltiplas simulações de poses, o cabelo (sendo que o ventinho de Aveiro não é nada meigo a quem quer manter um cabelo irrepreensível nas fotos), and so on. Tempos infinitos. Eu tive tempo de tomar café, beber uma água com gás, tirar eu uma foto com a ria como cenário aos livros que acabara de comprar na Feira do Livro, dois dedos de conversa e vir embora, e uma moça lá, em múltiplos ensaios fotográficos, em luta com o vento e os seus longos cabelos. Um minuto de silêncio em homenagem à amiga (normalmente são os namorados nesta encarnação de santa paciência) que ali estava em baixo, a fotografar cada ângulo, a apanhar a melhor luz, o mais mágico movimento de cabelos ao vento, como se estivessem em harmonia com os laços esvoaçantes.

Imaginei toda uma série de citações profundas (só que não) a acompanhar a foto que será eleita para o Instagram. E ri-me quando me lembrei de uma personagem (que acalmou e tem andado desaparecida das redes sociais) que postava o seu rabo fit num reduzido biquíni e legendava com um: o que importa é o interior. Juro que me apeteceu perguntar se era o interior do biquíni, porque aquilo também não deixava assim muito à imaginação. 

 

13
Ago18

Por um fio(zinho)...

Diz o povo que “mais vale cair em graça do que ser engraçado”.

Ando a sentir isso na pele. E queima. 

Não sou, nunca fui, e dificilmente serei daqueles “lambe-botas”, que se fazem valer do seu charme e encanto para parecer em vez de ser. Mas a merda é que são esses artistas que se safam bem. Os que criam a fabulosa ilusão de serem profissionais competentes e dedicados, ultra empenhados no trabalho.

A mim calhou-me ser honesta e crente que o reconhecimento se faz pelo mérito e pelo trabalho. Ando tão iludida, é o que é.

Quando mudei de equipa de trabalho, fui integrada provisoriamente na equipa de backoffice, sendo que tenho funções diferentes, porque é suposto pertencer a um novo órgão/equipa que, apesar de já estar em plenas funções, oficialmente ainda não foi constituída como órgão no organograma da empresa.

Então, e provisoriamente há ano e meio, estou sob alçada de uma chefia intermédia que é absolutamente intragável.

Sabem aquele estereótipo do funcionário público que entrou para a função pública porque era filho de Sr. fulano tal (e não, não é Eng.º Fulano tal ou Dr. Fulano de tal, ainda é da época em que bastava ser-se filho, sobrinho, vizinho do Sr. de uma qualquer secção pública para se ter acesso direto). E assim se fez o percurso profissional de tal criatura. E teve progressões de carreira porque sim, porque era assim no tempo das vacas gordas. Não era o mérito ou a competência que eram avaliados para crescer profissionalmente.

Estão a imaginar esse estereótipo, que tanta má fama dá à função pública? Pronto, é a chefia que eu tenho, e que ironicamente, o meu trabalho não passa por tal criatura nem de longe nem de perto.

Ora, eu não sou lambe-botas, para o meu trabalho não preciso da criatura para praticamente nada. Portanto ganhei o bilhete para cair em (des)graça perante tal alminha, que me tem feito azedar a paciência. E o que mais me revolta é a diferença flagrante com que trata os colaboradores: há os que fazem o que querem, ausentam-se horas do seu posto de trabalho, passam a vida na net a planear férias, a fazer compras, até a preparar casamentos já se viu, e não há uma chamada de atenção. E há os que nem um quinto disso fazem e estão sempre a ser chamados a atenção e a levar pela cara, como eu há umas semanas atrás, que “bem espremido” trabalho só duas horas por dia. O que engoli para não mandar tal criatura ir chatear o caralhinho.

Houve algo que mudou nos últimos meses: deixei de ser parva e entrar antes da hora, sair muito depois da hora, disponível sempre que se lembrassem de chamar para trabalhar/analisar processos, o que frequentemente acontecia depois do horário de expediente. E há algo que sempre foi meu: não andar a lamber as botas de quem quer que fosse, não andar a dar palmadinhas nas costas, não andar a bajular. Tenho muito trabalho para perder tempo com essas merdas, mas pelos vistos eu é que tenho as prioridades trocadas.

O trabalho já é mais que muito, e sempre sob stress. Junta-se este fabuloso ambiente de merda entre uma equipa que é cada um por si, e ver quem lixa quem, com uma chefia mesquinha, que alimenta o clima de intrigas e confusões, e cujo único prazer na vida deve ser foder a paciência aos outros, et voilá, ando aqui num estado catatónico. Das crises de ansiedade, ao permanente estado de nervos, das insónias ao stress a níveis pouco recomendáveis, sinto-me uma bomba relógio.

Faltam dois dias de trabalho e depois férias. Preciso de me afastar deste ambiente como preciso do ar para respirar. E é só que penso neste momento. Ir para longe daqui. Conseguir recuperar forças, energias, regenerar-me. Mas e para quê? Para depois voltar para a mesmíssima merda e em dois dias voltar ao mesmo estado anímico?

Preciso de mudanças. Porque como isto está, não vai dar para aguentar muito mais tempo sem cair num esgotamento ou depressão.

 

07
Nov17

Pandora, a mais azeda!

Ando com uma falta de paciência que dá dó. Isso e crises agudas de mau feitio. Ou então ando só farta das pessoas nas redes sociais. 

É a dondoca que sabe de fonte segura que os mitras se estavam a meter com os betinhos à porta da Urban, e por isso os godzillas dos seguranças não tiveram outra solução que não fosse partir para a agressividade extrema. Isto é uma consumição quando estratos sociais diferentes se misturam! Puta que pariu!!

São as novas adolescentes dos tempos modernos, aquelas a raiar ali os 40 anos, que tanto apregoam estilos de vida saudável com muito exercício físico e alimentação saudável, que postam fotos dos seus abdominais definidos e dissertam sobre a mudança de estilo de vida e como nunca estiveram tão bem, mas depois a malta não percebe muito bem quando aparecem textos em que falam da epifania que tiveram ao verem fotos de si mesmas e aceitarem-se como são, sem maquilhagem, com celulite, com estrias, com rugas, com pneu e barriga inchada. E cereja no topo do bolo, porque são elas mesmas sempre, quer estejam de sapatilhas (ténis para os lisboetas) ou de saltos, de chinelos ou descalças.

E eu reviro os olhos com estas epifanias, compreensíveis na parvoíce dos 15 anos, e passam-me assim comentários pela cabeça do tipo: oh riqueza, se não sofres de transtorno dissociativo de personalidade, esquizofrenia, e como obviamente não és o Pessoa, deixa-te de merdas que já tens idade para isso.

A mais doce agora deu para fazer vídeos e eu reviro os olhos a cada trejeito que ela faz com a boca(rra), uns tiques manhosos, que me deixam na dúvida se a moça não estará com espasmos. Isso e a tremenda falta de naturalidade, incongruente para quem se tem por uma comunicadora nata, com formação e tudo. Ah e a puta da mania que Lisboa é por si só o país e o norte é logo ali acima de Santarém. 

Ando com uma falta de paciência que dá dó. E crises de mau feitio. Ando farta das pessoas no geral, das parvas em particular.

Ou então ando com uma ressaca de nicotina do caraças porque deixei de fumar há uma semana. Era uma decisão de ano novo. Ainda vou a tempo!!

 

19
Fev16

O dilema de Pandora

No post anterior perguntei Yey or Ney mostrando um modelito de uma mala da Cavalinho.

A quem respondeu, obrigada pelo feedback, a sério, estamos todas em consonância, para mim também é NEY, pela marca, sem dúvida, que não me acende paixões nem nunca me pôs a arder em desejos por qualquer artigo.

Mas, aqui me confesso, vivo um pequeno dilema. O modelo que vos mostrei em particular foi-me gentilmente oferecido no Natal de 2014 pelo Gandhe. O menino esforçou-se, sabe que gosto de malas, embora já não compre tantas como antigamente, mas gosto. É raro passar à porta de uma Parfois e não ir espreitar. O rapaz esforçou-se. Escolheu um modelo que costumo usar, nas cores que mais gosto. O moço acreditou que me oferecer uma mala da Cavalinho, com direito a papiro com o certificado de qualidade, me ia deixar sem palavras. E deixou. Infelizmente não pelo deslumbramento, mas pela surpresa de tal escolha, ainda mais quando, por muitas malas que veja, ele nunca me viu a olhar para as da Cavalinho.

Eis que há mais de um ano que a dita está guardada na prateleira do roupeiro destinada às malas, há mais de um ano que aguarda pelo dia que me encho de coragem e saio com ela à rua. 

É certo que há mais de um ano não compro nenhuma mala, mas esta semana comprei e quando o fiz, pensei logo no raio da Cavalinho, que jaz no canto da prateleira do roupeiro. Há um misto de emoções. Por um lado, lá por ser Cavalinho, marca que nada me diz e não aprecio de todo, o modelo até nem é mau, nem é assim muito dondoca, até é um modelo jovial, com cores atuais e que gosto. Foi-me oferecida pelo Gandhe, e não deixa de ser tramado ter encostada a um canto a prenda que ele me deu. Mas também é verdade que ando aqui toda contente com uma mala da Stradivarius que nem 20€ custou e quando pego na Cavalinho, não me imagino a sair à rua e sentir-me "confortável" e na minha pele com tal acessório à pendura.

É caso para dizer que quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré.

Não sei que faça, essa é que é essa. 

 

05
Dez14

Fico tão sem jeito

Ultimamente ando a ouvir elogios. Ontem recebo uma sms emocionada de uma amiga especial, a quem enviei um miminho de Natal, onde ela me chamava de "anjo humano". Comento isto com uma outra amiga que me escreveu isto: 

Mas moça, TU ÉS MESMO MESMO MESMO um anjo humano.

Porque raio ainda duvidas? Fazes coisas lindas à tua volta e nem te dás conta. Numa tentativa de ajudar um gato abandonado, deste-me a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.

Presenteias toda a gente à tua volta, tens paciência para ouvir os dramas de todos, espalhas magia mulher.

Depois há quem me considere um exemplo, uma inspiração. 

Menos, a sério. Menos. Não sou anjo, não sou exemplo, não sou inspiração. Sou uma miúda de 33 anos, com traumas, com medos, com fantasmas do passado enterrados algures na minha pele, com sonhos guardados, com desejos e vontades, com defeitos, tantos, com uma vida banalíssima, cheia de rotinas chatas, com algumas dificuldades e agruras. Agradeço ter amigos e pessoas especiais que a vida me pôs no caminho, talvez para compensar outras que tão mal me fizeram e tanto me magoaram. E por agradecer ter esses amigos, gosto de os mimar, de cuidar deles, de lhes mostrar que têm um cantinho especial no meu coração. Isso não faz de mim anjo. Apenas humana. E humilde por saber valorizar e agradecer às pessoas por estarem na minha vida.

Não sei lidar com elogios. Cresci a ouvir críticas e acusações, cresci sob uma aura permanente de acusações e de uma exigência por uma perfeição doentia, que não existe, e me era exigida por pessoas tão, mas tão imperfeitas. Venham críticas e acusações e sou um ás a ouvi-las e refutá-las. Agora os elogios deixam-me completamente perdida, sem saber o que dizer, fazer ou como reagir. 

Sou um bicho estranho. Não um anjo.

 

22
Out14

Estórias dignas do divã de Freud

Quando se nasce e cresce no seio de uma família disfuncional, anormal e com tantas complicações, intrigas, hipocrisias, ódios, o objectivo, quase sonho de vida, é vermo-nos livres e longe daquela insanidade, sob pena de ficarmos tão ou mais afetados como aquela gente e perpetuar o ciclo familiar doentio. Foi assim que cresci. Foi assim que aguentei muita coisa. Foi com este objetivo em mente que me mantive à tona, agarrada a uma tábua de salvação imaginária, que tantas vezes era tão frágil, tão ténue, tão pouco para aguentar tanto, que por pouco, muito pouco não sucumbi e me deixei afundar. Literalmente.

Há um alívio enorme quando nos sentimos livres. Qual pássaro que viveu aprisionado e tem a liberdade para respirar e voar. Mas há outro preço a pagar. E eu acredito que tinha noção desse preço. E continuo disposta a pagá-lo. É um permanente vazio e solidão que se sente. Há uma parte importante que falta. Verdade que nunca lá esteve, mas o que resta é um enorme buraco negro, vazio, frio, que nada nem ninguém pode preencher. E quando me perguntam porque nunca falo da minha família, eu respondo que sofro de uma espécie de orfandade de pais vivos.

Revi familiares neste casamento de um primo afastado. Temi sentir os olhares reprovadores, mas não. Pelo contrário. Senti que, finalmente, quase que por milagre, tios e primos têm noção de quem é o vilão e a vítima. E quando me perguntavam pela minha mãe e eu respondia apenas e só: não sei, há um ano que não nos vemos nem falamos - as pessoas, que por acaso também estão de relações cortadas com ela, passavam-me a mão no rosto, com um olhar que só agora, já eu adulta, independente e livre, me dão como conforto. "Deixa lá, estás bem agora!"

Pois estou. 

Mas custa esta solidão de não ter aquela porta onde bater, aquele, aquele calor afetivo; há um vazio que ninguém pode preencher, porque pai e mãe ninguém substitui. 

 

05
Mai14

Excesso de bílis (post com linguagem pouco recomendada a almas mais sensíveis)

Devo andar a sofrer de um qualquer distúrbio da bílis, tal é o humor de merda que tem andado por estes lado (e nem posso fazer da TPM bode expiatório, a menos que ande monstruada 30 dias por mês). 

Será uma fase - repito, qual mantra, a mim própria, crente que isto vai passar e em breve regressarei à boa disposição e estado zen habitual.

Ando num estado de nervos tal, irritativa, e essas merdas todas típicas de gaja chata mais chata não há. Mas, e sublinho o mas, há gente que também me provoca os azedumes.

 

Ando farta, fartinha. É os mesmos sítios, as mesmas pessoas, fazer as mesmas cenas. Ando farta, cansada, saturada. 

 

Ando cansada de amizades que só se lembram de mim quando querem chorar as mágoas, e depois quando sou eu a mandar uma sms a desabafar a neura, nem à merdinha me mandam. Top é cruzar-me por acaso com a alminha e ela andar feliz e contente da vida com outras pessoas. Mas eu sou psicóloga com gabinete aberto ao público e divã para psicanálise???? 

 

Ando cansada da cara metade. Vivo escrava do horário (merdoso) de trabalho dele. Vivo escrava de pouco tempo ter depois que saio do trabalho (18h) porque ele tem de jantar cedo para ir trabalhar, e aqui a menina não tem tempo para correr, para andar de bicicleta, para ir ao ginásio, para ir laurear a pevide se assim lhe apetecer e para o que quer que seja, porque tem de encostar a pança ao fogão para garantir alimento confeccionado na mesa ao macho. E quando sou eu que preciso que ele se responsabilize pelo almoço de um sábado, já que eu vou passar a manhã toda em explicações, levo na tromba com um "vou ao ginásio, comemos uma sopa no shopping quando saíres". Escusado será dizer que aqui a menina virou onça, soltou fogo pelas ventas, rodou a baiana e disse umas quantas ao macho. Adiantou muito. O gajo até enfia ao rabo nas pernas, vem todo meloso e mimimi para logo a seguir ir comprar MAIS UM telemóvel à cabra da mãezinha. Já perdi a conta aos telemóveis que lhe deu, novos e usados. Numa semana ela fodeu um motorola que eu tinha acabado de guardar por ter trocado de telemóvel (coisa que faço aí de 3 em 3 ou de 4 em 4 anos). Num ano ela é capaz de ter 2 e 3 telemóveis, porque não sei que merda faz, deve enfiá-los em sítios estranhos e obscuros ou o caralho. Repito, perdi a conta aos telemóveis que o idiota já comprou para lhe dar, dos que já lhe dispensou dos nossos que guardamos quando trocamos. Aliás, nem vale a pena guardá-los que a mulher deve adivinhar que temos um telemóvel novo e trata logo de choramingar que o dela isto e aquilo, leva o nosso usado, mas qual quê, ela tem dedos de rainha, um telemóvel usado não lhe serve; deve ser por isso que os usados ainda duram menos nas mãos dela. Fiquei fodida! Até porque a santa da mãezinha trata o filho como escravo, pau para toda a obra, palhaço mesmo, e as prendinhas vão todas para quem? Para a filhinha querida, que deve morar em Plutão, nunca visita a mãe, nem telefona, nem à merda manda, mesmo quando a mãe está internada num hospital com problema grave de saúde. Curioso, o marido nem uma hora tinha de ser enterrado e ela já estava a dar o telemóvel que era do falecido a quem? À filhinha. Que o guardasse para ela, que tem como passatempo estragar telemóveis. E depois é a atitude dele. Eu, a idiota que está sempre do lado dele, que é a bombeira nos apertos, eu levo com respostas como a de sábado e como outras semelhantes que já tive antes. Para mim nunca há tempo ou disponibilidade, nem prendinhas. Mas para a cabra da mãe que faz dele capacho dos pés, ui, para ela está sempre disponível. Raios ma partam se não dá vontade de lhe enfiar os pertences todos em sacos do Pingo Doce e ir largá-los a casa da santinha. Ela que lhe faça o jantar, e trate da roupinha, que o ature já que foi ela que o educou e é ela que o manipula a seu belo prazer.

 

Nota-se que estou com níveis de fel na bílis assim nos limites de provocar uma explosão nuclear???

 

Desculpem qualquer coisinha pela linguagem usada. No Norte é assim: soltar palavrões é terapêutico para aliviar o stress.

 

 

17
Abr14

Estórias dignas do Divã de Freud

Um blog, para mim (desde que comecei nestas andanças, com outro nome, noutro espaço), sempre foi uma espécie de diário. Escrevo o que sinto, penso, vivo nos meus dias, escrevo as minhas memórias, as cicatrizes que as pessoas que trilharam na minha vida me deixaram. Escrevo as minhas ironias e sarcasmos, escrevo as minhas opiniões, escrevo sobre o que gosto e não gosto. Sou eu. E assumo o que sou.

Quando me decidi a mudar de blog não foi para esconder o que sou. Foi apenas para que pessoas que retirei da minha vida não tivessem acesso a nada meu, e o blog é onde sou eu, exatamente como sou e sinto e penso e vivo. Sem filtros ou máscaras. Talvez por isso é que meninas que já referiram este blog no Follow Friday me tenham descrito como: curta e grossa. Encaro como elogio. Porque é como me assumo: transparente e genuína. Honesta até demais.

 

Estes dias houve algo que despertou um dos meus maiores esqueletos do armário, ou fantasmas (ao estilo de Scruges). E, coincidência ou não, leio este post da Maçã.

 

Em tempos levei com tanta coisa da minha família, que se contasse não acreditava. Um dia dei o grito do Ipiranga e estabeleci os meus limites. A ver se mais alguém se arriscou a abusar da minha boa vontade? 

 

Vejo-me ao espelho nesta afirmação da Maçã. Pelo menos na primeira parte, porque ainda não consegui dar o grito do Ipiranga com a única pessoa que me fez descer ao inferno, ver o que há de pior em mim, e fez-me acreditar que sou um monstro: a minha mãe. 

 

Talvez tenha mesmo de começar a exorcizar histórias do passado, histórias que me marcaram a alma como ferro em brasa. Histórias que, precisamente a meio da minha vida, aos 16 anos, culminaram numa primeira tentativa de suicídio. Dois anos mais tarde outra. E teriam havido outras se não tivesse ido buscar uma força não sei onde, agarrado uma esperança em não sei o quê e sobrevivido até, finalmente, ter saído de casa. 

Sair de casa não resolveu. Como sempre, há fases mais pacíficas, mas a tempestade virá. E vem. Sempre. Acreditei que o sair de casa colocaria ponto final nessas tempestades. Não pôs. 

 

Há meses que não vejo a minha mãe. O último contacto que houve foi meu e levei com os cães em cima, com calhaus e o telefone desligado na cara (e liguei-lhe apenas para a informar que o tio/padrinho dela, com quem está de relações cortadas há anos - basicamente está de relações cortadas com todos os familiares há imenso tempo -, tinha falecido). No Natal passei em casa dela, vi tudo fechado, trancado, às escuras. Vim embora pelo mesmo caminho. 

Dela nem sinal de vida, até ontem, quando me apercebi de uma chamada dela, que não atendi. Devo devolver a chamada. Um dever moral, diria. E tremo quando penso nisso. E não posso. Não sou uma miúda dependente dela, sem ter como me defender dos seus ataques. Tenho 32 anos, levo uma vida totalmente independente, e mesmo quando estou com problemas, ela é pessoa quem nem em sonhos me passa pela cabeça pedir ajuda. 

Talvez esteja mais que na hora. Devolvo-lhe a chamada e não me deixo abater. Não a deixo pôr a pata em cima, humilhar-me, fazer-me sentir a grande ingrata, o monstro que ela sempre pintou. Um dia tenho mesmo de enfrentar este esqueleto, pegar o touro pelos cornos e mostrar-lhe que há limites. Até para uma mãe há limites. 

 

 

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