Ora bem, este assunto parece moda, ou pelo menos há mais consciência e sensibilidade para esta questão das intolerâncias alimentares. Eu não sou profissional para me debitar sobre o assunto. Sou alguém que foi percebendo que sofria certas consequências quando comia determinados alimentos, e nos últimos três meses (mais coisa, menos coisa) viu-se com uma série de sintomas que alertaram para algo de "errado".
A intolerância alimentar é basicamente isto: comemos um alimento e fazemos reação. Dependendo do grau de intolerância e da(s) reação(ões) pode ser mesmo alergia. Hoje fala-se muito da intolerância ao glúten, sendo que os alérgicos são os chamados celíacos que nem de longe nem de perto podem ingerir glúten, e na intolerância à lactose. São as mais conhecidas e as mais comuns. Mas há outras. Há quem seja alérgico a frutos secos. Há quem não faça alergia mas tenha um conjunto de reações (citando algumas: inchaço abdominal, prisão de ventre ou diarreias, cólicas, flatulência, indisposição, enxaquecas, etc) sempre que ingere determinado alimento ou alimentos.
Falando de mim, porque é o meu testemunho: sempre, desde que me lembro ser gente, que sofro de prisão de ventre. Tenho um intestino preguiçoso, sensível. Comidas mais condimentadas ou pesadas ou alimentos como feijão, castanhas, tremoços, era certo e sabido que ia ter uma crise de cólicas e afins. Evitava esses alimentos, embora de quando em onde deliciava-me com uma feijoada, ou com o arroz com feijão preto, ou com arroz de feijão, ou com castanhas, e pumba, lá andava dois dias com as cólicas, a prisão de ventre seguida de diarreia, a flatulência.
Só que de há três meses para cá tenho tido esses sintomas diariamente, ou quase, e sem andar a comer esses alimentos que eu já sabia que me provocavam todo esse mal estar. Conversa com nutricionista, retirei o mais que pude glúten e lactose para perceber se era uma dessas duas, ou as duas. Continuei com os sintomas. Cheguei ao desespero de almoçar um bife de peru grelhado com uma salada de alface e horas depois dobrar-me com as cólicas. Não comia pão, massas, não andava a beber leite, tudo muito controladinho e supostamente saudável.
Decidi, antes de me meter num gastrenterologista, fazer o teste das intolerâncias alimentares. E lá fui no último sábado fazê-lo.
Ora bem, as intolerâncias podem ir e vir, podem ficar para sempre. Quando a intolerância é temporária é um sinal que o corpo saturou de determinada proteína ou nutriente. É preciso fazer um período de repouso para perceber se o corpo o volta a aceitar, ainda que o consumo deva ser mais moderado e regrado. Isso significa que faz-se um primeiro teste, está-se um período de tempo (entre um a três meses) sem ingerir aquele grupo de alimentos e repetir o teste para perceber se houve alterações.
O resultado do meu teste: sou intolerante, pelo que não posso comer no próximo mês:
- açúcar
- trigo/glúten (arroz, massas, bolachas, pão)
- chocolate
- cenoura
- feijão
- banana
- amendoim
- café
- pimento
- canela
- sal
- carne vermelha
- carne branca
- alface
- laticínios (leite, iogurtes, natas)
- amêndoa
- óleo
E ainda devo evitar ao máximo:
- limão
- brócolos
- camarão
- morango
O bife de peru grelhado com alface que eu comi e me deixou cheia de cólicas?! Pois. Intolerante a carnes brancas e alface.
Desafio: um mês só a peixe e alguns legumes (não me falem em arroz ou massas sem glúten, porque já tenho o plano alimentar da nutricionista e nas primeiras duas semanas vou estar sem hidratos), pão de espelta, tostas sem glúten, tofutti (uma espécie de queijo de barrar, mas de tofu), derivados de soja, mas sem abusos, leites vegetais (que não sejam de arroz ou amêndoa, ou com sabores de morango ou chocolate), leite magro sem lactose, iogurtes magros sem lactose, gelatinas... e quiçá começo a explorar o mundo vegan.
Daqui a um mês repito o teste e tomara que eu saia de lá e vá direta comer um bife!
Agora tento encarar com optimismo e algum humor, mas os primeiros dias fiquei sem chão, sem saber o que fazer, o que ia ser de mim. Isto está longe de ser para emagrecer. É para poder alimentar-me sem me dobrar com dores de cólicas, sem o constante mal estar do inchaço, da flatulência, das enxaquecas (que andava a associar a outra coisa, mas pelos vistos, também deriva disto). Eu só quero sentir-me bem. E para isso tenho de perceber os sinais que o meu corpo me dá, entendê-lo e procurar a melhor forma para me sentir bem.
Para já, e apenas com uns dias: peixe, peixe, peixe. Pão de espelta (adoro), o tofutti (muito bom), leite sem lactose (prefiro aos vegetais), iogurtes de soja (blhéc), fruta (pêra, maçã e laranja), nozes, e os sintomas diminuíram drasticamente. Valha-me isso. Que compense o esforço e sacrifício.
Como ainda tenho um mês pela frente, palpita-me que vou começar a explorar sabores novos. Tofu é o primeiro da lista.
E depois do choque, há que levantar, erguer a cabeça e tirar o melhor proveito deste desafio. Bora lá comigo?!