A última semana que aqui vim escrevinhar umas coisas foi a semana mais difícil nesta quarentena. Talvez por ter estado doente, ter tido febre, ter pensado em coisas que, mesmo não sendo hipocondríaca, os tempos que vivemos levam uma pessoa a pensar. Talvez porque me sentia muito em baixo, desanimada, sem energia, sem produtividade, passaram-se dias em que me arrastava e não tinha cabeça para absolutamente nada.
E então uma pessoa sente que bate no fundo e dali só tem um sentido a seguir: para cima. Portanto daí em diante tem sido o objetivo dos dias, levantar o ânimo.
Uma das primeiras coisas que decidi pôr em prática nesta operação "levantar o ânimo" foi ir fazer uma caminhada. Foram 5,5 km no meio da natureza, aqui tão pertinho da minha casa, quase como quem vai ali ao fundo do quintal e volta. É incrível as coisas boas que temos à nossa mão, tão perto, tão acessível, e nos passam ao lado dia após dia. Voltei a casa com outra energia. E confesso que um pouco tonta, acho que foi do excesso de ar puro e livre de paredes. Quem segue a Pandora no Instagram pôde apreciar uma bela foto desse meu passeio.
A ideia era ter ido mais dias, não deu. Sim, porque ironia das ironias, quando isto começou uma pessoa não sabia o que fazer ao tempo disponível. E realmente somos criaturas de hábitos e mais fácil do que muitas vezes achamos, habituamo-nos a novas rotinas e realidades. Neste momento já não está muito diferente de quando ia para o escritório da empresa todos os dias. Há dias que desligo o computador mais cedo, outros mais tarde, também giro de acordo com o trabalho que tenho em mãos e com os horários que fiz ao longo do dia. Não se proporcionou mais caminhadas porque uns dias estava de chuva, outros desliguei o trabalho mais tarde e ir até ao sofá antes de ir fazer o jantar também sabe bem.
Uma nova rotina implementada nas últimas duas semanas: andar de bicicleta. Estática. Já tenho a bichinha há uns anos, e durante um tempo era diariamente usada. Mudanças de horários de trabalho, de turnos, mudanças de local de trabalho, trouxeram mudanças ao dia a dia e uma desculpa a seguir a outra, a bicicleta tem estado encostada. Há os dias da semana que vou para as aulas de dança, de local fit, de cardio fitness, os outros dias em que não há aulas descansa-se e aproveita-se o tempo para tarefas domésticas. E assim a bicicleta ficou encostada, ótima para pendurar cenas. E começou a quarentena. Primeiro, e para não perder o ritmo de exercício que já tinha na minha agenda semanal, comecei por fazer exercício recorrendo a aulas partilhadas nas redes sociais ou YouTube. E comecei bem, estava até certinha, até vir uma semana menos boa, seguida de uma má, e verdade que chegava a hora de desligar o computador e a última coisa que eu queria era voltar a olhar para um ecrã para fazer exercício. Era arrumar a cadeira de secretária e estender o tapete para fazer exercício. Esmoreci. E teve um efeito ainda mais devastador olhar para o Instagram e ver resmas de pessoas mega fits a fazer exercício de manhã, à tarde, a meditar enquanto apanham sol na janela, a preparar aqueles mega pequenos almoços dignos das novelas brasileiras (pelo menos as que eu via há anos atrás). Era só energia e vontade e tempo e eu ali, a sentir-me um verdadeiro trapo, um caco, uma lontra incapaz de mexer uma pestana já exausta de tanto exercício que me aparecia no feed. Acho que à conta disso tenho um six pack na retina, o que explica o comentário do oftalmologista quando fui à consulta este sábado: você tem cá uma retina... naquele tom como quem diz: estás cá com uns glúteos
Foi quando definhava e esmorecia que olhei pelo canto do olho para a velhinha bicicleta e pensei: por que não? 30 minutos todas as manhãs antes de começar a trabalhar. As manhãs até ganharam novo ritmo e energia. E se ao fim do dia ainda me apetecer ir caminhar ou até fazer uma aula de localizada com apoio das redes sociais ou YouTube, tudo bem, se não, não me pesa a consciência (e o rabo) por não mexer uma palha e sentir os músculos a atrofiar por terem pouco movimento. E eis que a bicicleta fica sem o monitor que mede tempos, distâncias, calorias. Atenção, era um modelo muito básico, com anos, e sim, já foi muito usada num passado. Continuei a pedalar os 30 minutos, mas sem noção do resto. Não me interessa contar calorias ou treinar para a volta a Portugal. Mas se uma pessoa está a fazer isto diariamente, convém ter noção da evolução, assim como ir variando esforço e dificuldade. Comecei a procurar modelos de bicicletas estáticas. Falei com Gandhe, pedi opinião sobre funcionalidades e cenas dessas. Ele acabou por se entusiasmar e a comprar, mais vale investir num equipamento razoável para os dois (a outra só dava para mim porque era muito pequena para ele). Começou a pesquisar e deu com uma bicicleta semi profissional da Domyos no OLX. E a vendedora era daqui perto. Mostrou-me a bicicleta, fiquei um bocado de pé atrás com o modelo, aquilo parecia too much em tamanho e programas e cenas. Fez umas perguntas à vendedora, artigo novo, excelente estado (confere, nem um risquinho), negociou preço e foi ontem vê-la. E trouxe-a. Portanto agora tenho ali uma besta de uma bicicleta que já me pôs a suar em bica logo de manhã e tenho os glúteos em fogo até agora.
Li um livro em 5 dias. Já comecei o segundo volume, mas com mais calma para durar mais. Assim como assim, estou rendida a este autor e à série da inspetora Erika Foster, que os 3 volumes seguintes estão encomendados...
Já fiz um bolo com a batedeira nova. Correu bem. Este fim de semana não houve bolo porque fui cobaia dos dotes doceiros de uma amiga e recebi em casa uma pavlova com lemon curd. DIVINAL!!!! (Percebem porque tenho de pedalar?)
O dia de ontem foi um soberbo dia de verão. Sem facilitismos, nada de sair de casa e ir pôr o pé na areia. Pintei as unhas dos pés, andei de vestido fresquinho, fizemos churrasco no terraço e bebemos caipirinhas. Há que reinventar e nunca o slogan da IKEA fez tanto sentido: VIVA MAIS A SUA CASA!