Um animal NÃO é um acessório de moda
Na semana passada liguei, na hora do lanche, à policlínica veterinária para ver se ainda conseguia uma consulta para um dos meus gatos. A minha colega (com quem já tive este episódio) pergunta-me o que se passa, digo-lhe que ele anda com problemas nos dentes, e ela faz uma expressão parva e tece um comentário como se eu fosse uma maluca que se preocupa com os dentes dos gatos.
Na consulta de sábado, em conversa com a veterinária, falo desta moda do Bulldog Francês e na parvoíce que é esta mentalidade medíocre de achar que um animal é um acessório de moda, ao que a veternária responde que se as pessoas efetivamente soubessem no que se estão a meter quando compram um Bulldog Francês, talvez não aderissem à moda, que sim, é uma parvoíce sem tamanho esta coisa das pessoas quererem raças porque está na moda, porque toda a gente tem, porque também querem, e nem se preocupam em saber mais sobre a dita raça, características, problemas comuns de saúde, ou seja, prepararem-se devidamente para a chegada de um animal, seu acompanhamento e cuidados a ter. Por isso é que quando os problemas de saúde surgem, ou quando se cansam de cuidar do animal, a rua ou o despejo num canil ou associação é sempre a via mais fácil (será que também se descartam dos miúdos quando eles sujam o sofá, quebram um vaso ou fazem merda atrás de merda?). Já para não falar que para comprar o dito cão de ração, não se importam com os €, mas depois alimentar em condições, cuidados de saúde, e tratamentos quando ficam doentes, ah isso é muita despesa.
Coincidência ou não, também este fim de semana cruzo-me com este artigo na Visão:
O Bulldog Francês tornou-se um 'acessório da moda' e há pessoas que devolvem cães porque não combinam com o sofá
Não tenho muito mais a acrescentar ao artigo.
Hoje tive de ir deixar o meu gato à policlínica, vai lá passar o dia para ser sedado e poderem tratar dos dentes: destartarização e extração dos que estiverem em mau estado. Avisei a minha colega que poderia atrasar-me, para avisar o chefe, caso passasse da hora. E deve ter avisado, apesar de eu até nem me ter atrasado, porque ainda não são 10h da manhã e estou farta de ouvir boquinhas sobre gatos.
Eu respiro fundo e nem respondo. Para quê? Não entendem, nunca vão entender. Em mim vêem a maluquinha dos gatos, a amiga dos animais, dizem-me para me deixar de gatos e ter filhos. Como se eu, por acaso, também lhes desse bitaites sobre a vida deles, os filhos ou o raio que os parta. Hoje estou azeda. E a morder a língua, claro, porque se fosse a responder à letra às piadinhas e boquinhas, as consequências para mim não seriam muito simpáticas.
E é sempre isto, no fundo, o que nós, defensores dos animais, sofremos. É este gozo e estas acusações, é este calar porque não vale a pena argumentar com mentalidades que continuam a ver animais como coisas, como objetos que se têm, de preferência que sejam da moda, para estar dentro das tendências.
E no meio de tanta estupidez, sou eu que estou errada, por ver nos animais seres vivos que sentem, sofrem e têm necessidade de cuidados vários, como qualquer ser humano vivo?